Eu tenho muito a dizer sobre The Last Black Man in San Francisco, estreia de Joe Talbot na direção e vencedor do Sundance Film Festival. É uma trama inteligente. Para ser bem mais franco, os primeiros cinco minutos já apontam que o filme é esplendidamente especial. Um dos protagonistas do filme se senta em uma parada à espera do ônibus. Em seguida um homem idoso chega na parada e coloca uma espécie de barreira protetora no assento antes de se sentar. O idoso está nú, mas o nosso herói não se importa com isso. Os dois comentam como a cidade está mudando, sendo invadida por forasteiros que não entendem o que a cidade significa para os que nasceram e foram criados nela.
Durante a maior parte de sua vida, Jimmie (Jimmie Fails) tem ficado em casas abandonadas por seu pai James Sr. (Rob Morgan). Jimmie raramente é visto sem seu skate, que serve como principal meio de transporte. Mont (Jonathan Majors) é visto correndo atrás de Jimmie enquanto ele monta pelo bairro. Às vezes, os dois montam juntos em uma forma mais sincronizada, uma mordaça de visão divertida que simboliza sua proximidade. No momento, Jimmie está dormindo na casa do avô de Mont (Danny Glover), dormindo no chão ao lado da cama de Mont. Fora da casa é um grupo de homens que servem como inspiração para uma peça que Mont está escrevendo. Um desses homens, Kofi (Jamal Trulove) tem uma história anterior com Jimmie, que ambos estavam presos na mesma casa dos adolescentes.
The Last Black Man in San Francisco é um romance agridoce cujo protagonista se esforçará ao máximo para estar com seu objeto de afeto. Ao contrário de muitos contos, este é inteligente o suficiente para considerar se o cara merece sua amada — neste caso, esta arquitetura.
São um bando de rapazes de aparência duvidosa que passam horas insultando uns aos outros. Suas praticas viciantes nos fazem se perguntar por que esses caras gostariam de estar ao redor um do outro. As observações de Mont sobre eles sempre atraem abusos, assim como sua amizade com Jimmie que, em forte contraste com as interações é tenra e próxima. Os amigos inseparáveis estão sujeitos aos habituais comentários homofóbicos, mas permanecem inabaláveis. Enquanto eles começam a brigar entre si, Jimmie e Mont têm preocupações maiores para resolver.
Mas o verdadeiro amor de Jimmie é uma casa vitoriana no distrito de Fillmore. A casa é única na medida em que tem uma torre na qual o telhado parece um chapéu de bruxa. Jimmie viveu na casa com o seu pai, o herdeiro de seu avô, até os seis anos. Jimmie tem uma ligação familiar ainda mais forte com a casa que com seus parentes. Em 1946, seu avô construiu a casa sozinho. Depois que seu pai perdeu a casa, ela ficou abandonada até que um casal se mudou para viver nela — a primeira de muitas referências de gentrificação que serão explorados no filme. Jimmie invade a propriedade, não com intenção de roubar, mas para reparar a casa e contribuir com a sua manutenção. Mas isso não é bem visto para alguns dos vizinhos e moradores atuais — uma mulher que joga alimentos em Jimmie, enquanto o marido se lamenta sobre o preço dos bolos voadores.
Um acontecimento grave deixa a casa temporariamente abandonada, e então Jimmie faz a sua jogada: Ele começa a cuidar do lugar, usando suas maneiras de deixar o lugar sendo a cara dele e de Mont. Com isso, o sotão seria o local para a estreia da nova peça de Mont e Jimmie recupera a sala secreta em que se escondiam quando os seus pais brigavam. Este lugar tem até um velho órgão juntando poeira. Segundo Jimmie, esse era o único lugar onde ele realmente se sentia em casa, era o único lugar seguro em uma vida de erros e incertezas. É fácil entender por que ele luta por esta casa, e por que ele iria vê-lo com os olhos irrealistas e tontos de alguém apaixonado. Sua história, pelo menos nas histórias que Jimmie relata, é a única coisa confiável que ele tem.
The Last Black Man in San Francisco não se move em um sentido convencional ou mesmo linear. É preciso prestar atenção para juntar as peças e recolher suas mensagens. Embora o filme esteja repleto de rostos familiares, de Glover a Mike Epps e à sempre bem-vinda nitidez de Tichina Arnold, Talbot confia sua estréia na direção. Isso dá ao filme um senso de urgência e realismo; estamos menos impressionados com as estrelas e mais impressionados com o sofrimento e as emoções dos personagens. De cena em cena, não sabemos ao certo para onde nos levam Talbot e seus atores, e mesmo quando o destino não é surpreendente, parece que você já viu isso em algum lugar. Há uma singularidade nos procedimentos que anuncia a chegada de um novo talento sem medo de ser arrojado, sentimental e desavergonhadamente emocional. Para ver isso, basta olhar como Talbot encena a maneira como Mont escreve e atua na sua peça Mont.
Morando em San Francisco, cada cena de The Last Black Man in San Francisco está impregnado de seu amor — e sua frustração — pelo lugar que os tornaram no que hoje eles são. Depois de ouvir duas mulheres reclamando dentro do ônibus sobre o quanto elas não suportam esta cidade, Jimmie interrompe dizendo que elas não têm o direito de odiar San Francisco — elas acabaram de chegar na cidade. Você não ganhou o direito de criticar um lugar a menos que tenha pago suas dívidas por lá, e mesmo assim, você vai perder o velho modo de vida quando ele se for. A pungência desse pensamento está no título do filme. A história de Jimmie é uma balada lenta, uma ode trágica, um lamento melancólico e um tributo de partir o coração. É um tributo à noção de lar que todos nós levamos.
Leonardo Pereira
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