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Queen: Discografia Comentada



Com o fim dos anos 1960 e muitas dúvidas sobre o que estaria sendo guardado para o rock & roll, os Beatles haviam lançado seu último disco, Let It Be (1970), e depois romperam para seguirem carreiras solo. O que esperar pela nova década que chegara com tudo? A Grã-Bretanha viveu um período de reformulação de sua música, e essa mudança foi radical. Gêneros como o glam-rock e o rock progressivo cresciam com intensidade na terra da Rainha, enquanto que os Stones já haviam se considerado a maior banda de rock do mundo inteiro, mas era da geração passada de grandes artistas britânicos como o Who, Beatles e etc. 

Inovadores, extravagantes, gêniais, criativos e grandiosos, foi assim que o Queen conquistou o mundo, na base do otimismo. Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon lutaram contra a imprensa da música para conseguirem o que tanto sonhavam: serem famosos. No início da década de 1970, a banda ainda com uma sonoridade altamente influenciada pelo Led Zeppelin e Jimi Hendrix, ambos os artistas vindo dos anos 1960, conseguiu lançar sua estréia, ainda sob muita curiosidade, mas não foi algo bom o suficiente para eles. O seu primeiro marco, Queen II, de 1974, era totalmente o oposto de seu primeiro disco, se tornando um clássico do rock progressivo, contudo pela sua mudança drástica de gênero em relação ao Queen, de 1973. Desde então, o grupo londrino faria três sequências de trabalhos inesquecíveis na qual nunca mais conseguiria alcançar este patamar de criatividade, extravagância e sofisticação. 

A banda adquiria status de grande banda de rock com A Night at the Opera, seu quarto trabalho, o mais caro já realizado na história do gênero e o mais eclético, misturando todos os estilos possíveis. Depois de conquistar o mundo, a banda passeou pelos estilos diversificados que os separam das outras bandas. 

Queen (1973)                                                             Deliberadamente denso, a estréia do Queen simplesmente é uma das mais curiosas de toda história do rock. O disco abre com um hard-rock poderoso, "Keep Yourself Alive" – o restante das faixas trouxeram abordagens do hard-rock e heavy-metal. Percebe-se a fome do grupo pelo sucesso, e aqui eles abordam e lutam cada vez mais fundo em "Liar", uma pesada que mistura improvisação e experimentação de seu som. Além disso, temos a balada "Doing All Right" – música desenterrada da época em que esses caras pertenciam à banda de nome Smile, gerador do Queen. Freddie Mercury já se mostra teatralmente com "My Fairy King", um de seus primeiros contos de fadas esquisitos, e Roger Taylor mostra todo seu amor pelo gênero com "Modern Times Rock 'n' Roll". Uma estréia muito boa para um grupo que suou bastante para conseguir um contrato com a Trident. Depois, a banda ia mudar drasticamente de estilo. 

Queen II (1974)
Este disco é um marco. Seu segundo disco é totalmente diferente do primeiro, contendo uma certa delicadeza em vez da porrada de sua estréia. A banda começou com um solo ao estilo "realeza" de Brian May em "Procession", introduzindo de forma magistral para "Father to Son", um som tocante, misturado com um rock progressivo leve. Com os dois lados do disco intitulados de "Branco" e "Negro", o lado branco – com domínio nas composições de May e uma de Taylor – contém faixas mais emocionais, como a louca e transcendental "White Queen (As It Began)", "Some Day One Day" e "The Loser in the End", de Taylor; o lado negro, as canções de Mercury são quase inteiramente sobre contos de fantasia, com assuntos bastante melancólicos – o hard-rock de "Ogre Battle", a espalhafatosa e revolucionária "The Fairy Feller's Master Stroke", o épico "The March of the Black Queen" e o sucesso que moveu Queen II por inteiro: "Seven Seas of Rhye". Sempre foi odiado pelos críticos importantes, mas acabou se tornando um clássico do rock progressivo e sua capa ficou no inconsciente das pessoas que amam o rock. 


 

Sheer Heart Attack (1974)
No mesmo ano, a banda não tinha tempo para descanso. O Queen estava disposto a alcançar a fama: o Mott the Hoople convidou o grupo para abrir seus shows no mesmo ano, mas o segundo semestre começou com o pé esquerdo. Brian May havia pego hepatite, teve que ficar no hospital e o Queen acabou cancelando sua turnê com a banda de Ian Hunter. Mas no mesmo ano, com tanto esforço, o Queen lançava o seu terceiro trabalho em dois anos, Sheer Heart Attack, o disco que levava o nome do grupo para o mainstream, deixando a banda entre as mais populares naquele momento na Grã-Bretanha. Assim como "Seven Seas of Rhye" foi a música-chefe de Queen II, a sátira autobiográfica de Mercury, "Killer Queen", foi o sucesso principal, atingindo posições surpreendentes na Inglaterra. Além disso, o disco tem outras jóias – os hard-rocks "Brighton Rock", "Now I'm Here", a metalística "Stone Cold Crazy", as brincadeiras vocais da engraçada e cativante "Bring Back That Leroy Brown" e a épica "In the Lap of the Gods". Sheer Heart Attack é um dos clássicos do Queen, mas o topo ainda chegaria para estes quatro rapazes talentosos e diferenciados de todo a história do rock & roll.  



 
A Night at the Opera (1975)
E o Queen chegou ao topo com esta obra-prima que levou quase um ano inteiro para ser gravado. Com problemas financeiros, a banda trocou de promotor e ganhou tempo o suficiente para gravar o seu disco mais importante de sua carreira. Disso, nasceu A Night at the Opera, um conceito totalmente comparado com os diversos estilos que eles decidiram adotar, se diferenciando de qualquer banda de rock. No álbum, há raiva ("Death on Two Legs" – para seu promotor safado), vaudeville ("Seaside Rendezvous"), rock progressivo ("The Prophet's Song"), amor por carros ("I'm in Love with My Car"), hard-rock pesado ("Sweet Lady"), história folk folclórica ("'39"), um desabafo amoroso ("Love of My Life"), pop-rock ("You're My Best Friend"), o jazz-rock ("Good Company") e a canção que definiria A Night at the Opera e o próprio Queen: "Bohemian Rhapsody". Esta música se tornou um clássico, contendo três partes musicais: uma balada que termina com um solo lindo de May, uma grandiosa passagem operística e uma seção de hard-rock. Além disso, saiu em single para promover o álbum, com "I'm in Love with My Car" no lado B. Ninguém nunca havia ouvido isso antes – um grupo de rock cantando partes operísticas teatralmente. Inegavelmente, é a obra-prima da banda. O Sgt. Pepper do Queen.




A Day at the Races (1976)
Baseado fortemente na sonoridade de seu antecessor bem sucedido, A Day at the Races soa praticamente igual, porém, contém uma idéia muito mais ligado ao rock progressivo. Sua introdução e seu final soam iguais, dando alusão aos inícios e fins dos discos do Pink Floyd. Canções como "Tie Your Mother Down", de May, são um exemplo perfeito semelhantes a "Death on Two Legs", de Mercury. Há mais hits com a pitada heavy-metal do astrólogo guitarrista nato do Queen: "White Man" é uma porrada sem fim. Em A Day at the Races, Mercury também está inspirado – ele criou canções cativantes como a desafiadora "The Millionaire Waltz" (uma valsa-rock), a burlesca "Good Old-Fashioned Lover Boy" e o maior sucesso do quinto trabalho da banda, "Somebody to Love" (uma espécie de soul-rock com inúmeras brincadeiras envolvendo coros vocais). John Deacon se mostra otimista com "You and I", outra faixa fascinante do baixista quieto de talento reconhecido e Roger Taylor colocou todo seu psicodelismo em "Drowse". Opera foi o álbum que deu ao Queen o estrelato mundial, e Races confirmou todo o seu status.




News of the World (1977)
Talvez um grande desafio para a banda. Este disco marcou a vinda de dois verdadeiros hinos do rock & roll: "We Are the Champions" (Freddie Mercury) e a batida de mãos "We Will Rock You" (Brian May). Tudo que tem no sexto álbum musicalmente diferente, é um Queen que tentou mudar profundamente o seu estilo para algo mais pop, como se eles quisessem que esse mundo estivesse juntos para um propósito. News of the World é o Queen do punk ("Sheer Heart Attack"), do blues ("My Melancholy Blues"), do hard-rock ("Fight From the Inside"), e do louco rock espacial ("Get Down, Make Love"). O inevitável foi que a música disco estava sumindo do mapa da música pop, e a banda teve que se conformar com este fato, mas News of the World é um dos álbuns importantes do quarteto londrino porque foi fruto de seus maiores hits, apesar de ter levado eles pela primeira vez para uma turnê nos Estados Unidos.




Jazz (1978)
Esse disco é um dos muitos que foram subestimados pelos críticos e pelo público. Jazz foi recebido duvidosamente pelo nome do álbum não ser nada semelhante ao estilo que a banda sempre esteve acostumada a tocar. Contudo, a banda consegue remontar uma diferença aqui em seu sétimo trabalho, fazendo um álbum com muito hard-rock ("Fat Bottomed Girls"), temas descarados ("Bicycle Race") envolvendo mulheres nuas andando de bicicleta no estádio de Wimbledon, o tema roqueiro para a sonoridade árabe de Mercury ("Mustapha") e a metáfora de Mercury sobre viver intensamente em "Don't Stop Me Now". É claro que para a imprensa musical malvada – Rolling Stone – o chamou de um "álbum fascista". Mas em geral, o álbum é um dos melhores da banda. 




The Game (1980)
The Game significou uma mudança radical da banda em termos de sonoridade na década que entrara. A banda deixou a agressividade de Jazz para escanteio e criou um material com bom pop-rock e com os seus dois primeiros singles número 1 na América, a música disco "Another One Bites the Dust" e o rockabilly "Crazy Little Thing Called Love e as baladas pop de sempre ("Save Me"). The Game marcou a entrada do Queen nos anos 1980 com tudo, sobretudo com suas turnês, que passariam a visitar estádios no mundo todo, vindo para a América do Sul – único continente que a banda não havia visitado – e enchendo 135 mil pessoas emocionadas dentro do estádio Morumbi. The Game deu a banda o poder de realizar turnês em estádios, coisa que ao longo dessa década que eles acabaram de entrar, eles iam fazer bastante e de forma incrível.




Flash Gordon (1980)
A trilha sonora do filme de ficção científica Flash Gordon se tornou uma marca obscura na discografia da banda, e como de costume, por ser uma trilha sonora, é o pior trabalho do Queen. A banda, depois de se sair bem sucedido com The Game, decidiu aceitar o desafio de gravar uma trilha sonora para um filme de Hollywood. E na pior das hipóteses, das dezoito faixas, apenas duas não são instrumentais. O tema do personagem ("Flash") e a ligação sobre o que é o herói no filme ("The Hero") são amplamente explosivas, principalmente esta segunda música. É um trabalho que deve ser esquecido.




Hot Space (1982)
Os tempos ruins não acabariam por ai. A banda foi para a Alemanha onde ficou uns tempos por lá. Chegando lá, o quarteto achou Munique, o estúdio Musicland e os alemães que trabalhavam lá bastante mórbidos e negativos, apesar do clima ser bastante pesado. Com isso, o Queen fez de Hot Space uma mistura de rock com funk, música disco, R&B e música eletrônica. Ouvir faixas nojentas como "Staying Power", "Dancer", "Body Language" e "Cool Cat" simplesmente foi a gota da água. "Under Pressure" – com participação especial de David Bowie – é a única grande faixa em todo o conteúdo. Em geral, Hot Space, junto com a trilha do filme Flash Gordon, é um dos piores álbuns do grupo.


 

The Works (1984)
The Works foi uma volta às raízes da banda, não apenas em seu estilo, mas no hard-rock que os consagrou. Obviamente, uma faixa como "Radio Ga Ga" simplesmente comandou o trabalho inteiro, trazendo para a banda o hino dessa década para eles. Contudo, a sonoridade da banda ainda pareceu bem mudado por causa dos sintetizadores que começou a fazer parte do som do grupo desde The Game. Mas The Works trouxe o hit debochado de "I Want to Break Free", a linha hard-rock de "Hammer to Fall" e o folk conscientizador "Is This the World We Created?". A turnê do álbum, The Works Tour, passou pela Europa, Ásia, África e fez dois shows lendários no Rock in Rio, em 1985, fazendo do Queen a principal estrela do primeiro festival realizado por Roberto Medina. Além disso, 1985 foi o ano atípico para a banda: com os shows no Rock in Rio e a apresentação épica no Live Aid, todos esperavam o fim da banda, mas eles surpreenderam a todos.




A Kind of Magic (1986)
Lançado como trilha sonora do filme Highlander: o Guerreiro Imortal, A Kind of Magic marca uma sonoridade potente, com sintetizadores deixando o som cada vez mais poderoso. A faixa-título foi o hit do momento, enquanto que faixas como a romântica "One Year of Love (Deacon), "Who Wants to Live Forever" e "Gimme the Prize" (May) apareceram no filme de Russell Mulcahy. Já "Friends Will Be Friends" (Deacon e Mercury) é outro hit querido por todos. Assim como a turnê passada, a The Magic Tour promoveu A Kind of Magic e foi a última turnê do grupo, passando por toda a Europa – na maioria das vezes, a banda encheu estádios, como no estádio de Wembley. O último show da banda foi no enorme Knebworth Park, em Londres, dando a larga impressão que algo sério havia acontecido com o grupo, mas eles negaram.




The Miracle (1989)
Depois do final estrondoso da Magic Tour, a banda se separou para descansar e lançar trabalhos solos, enquanto que foi naquele momento que a banda descobrira que Freddie Mercury havia contraído o HIV. The Miracle foi o momento da união, na qual o grupo largou de lado os egos para se unirem fazendo música, fato que culminou com que todas as faixas fossem creditados ao Queen. A faixa-título é uma maravilha que conta sobre os milagres do ser humano, um sentimento bonito, enquanto que "I Want It All" é uma pesada de tempos antigos e "Scandal" relata os tempos difíceis em que a banda estava passando, principalmente Mercury por sua enfermidade perante a mídia britânica. Com isso, The Miracle se trata muito mais de ser um rock & roll de quatro pessoas que na montagem da capa, são únidos, sendo apenas um só.




Innuendo (1991)
O último álbum do Queen é marcado pela despedida de Mercury, que morrera em novembro de 1991, em decorrência da AIDS. Fato que deixou o álbum muito mais obscuro, mas sem deixar de lado o rock & roll em "Headlong", "I Can't Live With You", "The Hitman" e no amplo e complexo rock progressivo da faixa-título. Apesar da tristeza aparente no disco, Mercury solta seu bom humor na satírica "I'm Going Slightly Mad", e Mercury se despede com "These Are the Days of Our Lives" e "The Show Must Go On". Innuendo foi gravado todo em 1990, mas foi lançado apenas em fevereiro de 1991, levando o disco ao número 1 na Inglaterra, e se confirmando ao ver um Freddie abatido no clipe de "These Are the Days of Our Lives", o frontman da banda se despede no dia 24 de novembro de 1991, deixando um incrível legado de sua música, e muitas composições gravadas para Brian May, Roger Taylor e John Deacon finalizarem. Com a morte de Mercury, o Queen havia perdido seu combustível. O Queen havia acabado.




Made in Heaven (1995)
Depois da morte de Mercury em 1991 e do Freddie Mercury Tribute Concert realizado no estádio de Wembley em 1992, os membros remanescentes do Queen lançaram Made in Heaven, um álbum póstumo contendo canções inéditas que estavam arquivadas e mais outras faixas de sessões de álbuns anteriores que foram aproveitados – "It's Beautiful Day", "Let Me Live" e "Mother Love" – enquanto que outras músicas são das carreiras solo dos membros do grupo – "Made in Heaven" e "I Was Born to Love You", de Mercury; "Too Much Love Will Kill You", de Brian May e "Heaven for Everyone", do The Cross, banda solo de Roger Taylor. Apesar de Innuendo ter sido o último disco de Mercury com a banda, Made in Heaven foi a despedida oficial de Mercury do Queen.




Por Leonardo Pereira

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