É um absurdo como a Pixar consegue juntar tanta criatividade em um filme só. E não é apenas um filme criativo, mas a quarta sequência de uma franquia encantadora. A franquia mais importante de todo o universo da Pixar é roubada por um pedaço barato de plástico chamado Garfinho. Quem é esta coisa encantadora? Criado pela pequena Bonnie, é um garfo de plástico com olhos esbugalhados, limpadores de cachimbo vermelho para os braços e palitos de picolé para os pés. "Eu sou um lixo", diz o Garfinho em uma performance que em partes é tão encantadora e em outras partes se transforma em atitudes de angústia existenciais. O filme saúda este novo personagem inesquecível criado por um brasileiro de um jeito muito inteligente, atraindo o público mais experientemente adulto (quando crianças, elas faziam seu próprio brinquedo por falta de dinheiro).

Dentro do filme, ficamos de coração partido com o estado de Woody. O que o nosso cowboy poderia fazer? Para começar, ele se liga ao Garfinho, na qual Bonnie tem forte ligação. Quando o Garfinho desaparece, é Woody que tenta resgatá-lo em uma viagem de carro. Esse é o filme que o diretor Josh Cooley cria em meio a um céu como fundo principal das aventuras destes brinquedos amados, aprofundando de forma bem inteligente através de uma provocação inesperada que transforma o filme em uma grande jóia emocionalmente explosiva e de uma beleza delicada.
Através de seus personagens, Toy Story 4 também funciona graças a um brilhante roteiro assinado por Sthephany Folsom e Andrew Stanton e o diretor Josh Cooley consegue acrescentar ação e caráter, fator que acaba equilibrando ambas as partes. Toy Story ganha novos personagens para roubar os seus corações, como Gabby Gabby, uma boneca falante com uma caixa de voz quebrada com intenções de ser aceita por uma criança e um canadense exibido que monta uma moto e usa óculos escuros de cor vermelha chamado Duke Caboom, outro brinquedo que foi substituído e abandonado por seu dono.
Ainda que o Garfinho seja o centro de tanto amor por parte do público geral, o personagem tem uma tendência depressiva ao suicídio — parte em que a canção "Seu Destino Não é no Lixão", versão em português para a emocionante "I Can't Let You Throw Yourself Away" de Randy Newman — dando a tarefa a Woody de salvar o novo amigo. Ainda que neste Toy Story 4, a perspectiva de amar estes brinquedos e um problema como peça central do enredo permaneça, ao longo dos 25 anos desta franquia, os nossos brinquedos sofreram, mas amadureceram. E ao mesmo tempo em que eles amadureceram, nós amadurecemos junto com eles. Não é justo contar o que acontece, mas você precisa estar preparado para o final de Toy Story 4 porque ele é tão inesperado que vai acabar matando você emocionalmente.
E não podemos esquecer de Randy Newman, a mente criativa por parte das canções que compõem a franquia, e que definiram gerações de fãs. Ainda assim que tenha se passado mais de 10 anos, lembramos Toy Story (1995) em partes icônicas através de suas canções otimistas como "Amigo Estou Aqui" (versão do original "You Got a Friend in Me"), desta vez a lembrança das nossas mentes em Toy Story 4 vai ser na tentativa de suicídio de Garfinho e o salvamento de Woody em "Seu Destino Não é no Lixão". Não podemos esquecer da dublagem brasileira, que sempre elogiado e reconhecido como a melhor dublagem para um filme americano, trouxe humanidade, sigularidade e intimidade entre os personagens e o público.
Enquanto o Garfinho tenta cometer seu ato suicida de pular de volta para o lixo de onde ele veio — na qual "Seu Destino Não é no Lixão" é o conto do ato — Woody só quer voltar a ser um brinquedo amado como era nos tempos de glória. Para isso, Woody tem a ajuda de Bo Beep, a sua paixão: a lâmpada de porcelana que se transforma em sabedoria como peça-chave do futuro de Woody. Podemos refletir que Toy Story 3 já fez um clímax ideal para a franquia. Mas Toy Story 4 prova que ainda há muito a ser dito. E se Toy Story 4 realmente é um blockbuster na qual uma canção de Randy Newman entra no nosso inconsciente, "Seu Destino Não é no Lixão" é o canto de cisne indescritível. Você vai chorar, vai rir, vai achar estes personagens tão fofos quanto na primeiro filme realizado, e mesmo assim você vai continuar determinado a achar que sempre terá uma próxima vez.
Leonardo Pereira
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