Pular para o conteúdo principal

'Democracia em Vertigem': Doc de Petra Costa relata bastidores da política brasileira


Focado em colocar todos os acontecimentos políticos do país, a diretora prefere romantizar sua ideologia

Democracia em Vertigem, documentário da cineasta brasileira Petra Costa, chega ao serviço de streaming da Netflix. Pelo seu estilo investigativo, a cineasta decide contar a sua vida, desde o seu crescimento até a experiência de seus pais militantes de esquerda durante o Regime Militar (1964-1985), mesclando com flashbacks antigos desde a construção de Brasília e JK até imagens raras do nascimento do Partido dos Trabalhadores (PT) e o seu auge com a eleição de Lula em 2002.

Com duração de duas horas, Democracia em Vertigem é uma obra que se destaca pela sua originalidade na forma como foi filmado. Como qualquer cineasta, o sonho de quem realiza um doc é poder estar nos bastidores do assunto na qual o cineasta quer retratar nas telas, e Costa tem a sorte que todo cineasta queria ter para reproduzir desde conversas pessoais até bastidores do Palácio da Alvorada, onde Dilma aparece vendo o processo de votação de seu impeachment. O que fica claro é como Petra consegue colocar a esquerda e sua maneira de pensar politicamente quanto ao que é certo e errado de uma maneira tão romantizada que, dependendo do público que o assiste, o doc pode ser aclamado quanto odiado.

Vale ressaltar que a diretora transmite a sua decepção com o PT, principal elo que propagava ao povo brasileiro durante as Diretas Já e o inicio da nova república que era o partido composto por homens sérios, com mais inclusão e igualdade social. Sua crítica ao partido é indiscutível, mas existem erros que a narrativa esquerdista ainda esconde, distorcendo fatos e colocando o juíz Sérgio Moro — hoje, Ministro da Justiça do governo Bolsonaro — como inquisidor e equiparando Lula a uma espécie de divindade que não pode ser questionado. Afinal de contas, as inúmeras falhas do Governo Dilma, nas quais foram a principal causa de seu impedimento de exercer o seu mandato via Constituição Federal, não foram nem sequer comentadas. O que ficou claro é o discurso de que a ex-presidente foi tirada por um grupo de gangsters — citado corretamente pela cineasta — em um governo perfeito, na qual a economia brasileira estava próspera e sua popularidade era unanimidade. Só que não!

Mais imagens como Lula sendo ovacionado pelo povo brasileiro na cerimônia de posse presidencial no Palácio da Alvorada e seu famoso encontro com Barack Obama, presidente americano assumidamente democrata, retratam o que o Brasil viveu durante os dois mandatos do líder petista, onde o país teve um momento calmo de prosperidade, com taxas de desempregos miúdas e colocando o Brasil para a oitava economia em plena crise em 2008 realmente são dados positivos colocados por Costa, mas fere com a verdade quando a narrativa do documentário coloca o PSDB, partido conhecido por ser rival do PT, como de direita. Contudo, assuntos como a Lava Jato e a condenação de Lula não poderiam ser esquecidos pela autora, colocando cenas seletivas do acusado tentando se impor diante da autoridade de Moro, fato que objetifica Lula como réu que está sendo alvo de uma injustiça. É a razão para deixar Bolsominions odiando e a esquerda-caviar se emocionando.

Entre idas ao passado e voltas ao presente, Democracia em Vertigem estabelece os seus acertos através da sua cinematografia realizado competentemente por João Atala e uma maneira pessoal de como cada cena foi filmada e seu desenvolvimento cinematográfico crescente e competente. Quanto ao roteiro organizado para o lado que convém estabelece as informações que servem ao PT e a esquerda como instrumento de louvor e coloca a direita e todos os setores conservadores e religiosos como o alvo perfeito para aniquilá-los da face da terra. Que a facada começe.

• Leonardo Pereira • 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

The Velvet Underground: Discografia Comentada

Qual foi a banda americana que mais influenciou os futuros grupos de rock britânicos? E quem foi a banda americana mais odiada em sua época e reconhecida como clássica nas décadas seguintes? É óbvio que é o Velvet Underground. Formado em 1964 por Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Angus MacLise, o grupo ficou conhecido pelo seu som pessoal e visionário, nas quais, com as composições sujas de Reed falando de drogas e diversos problemas sociais, o Velvet influenciaria outros artistas de características parecidas. Em apenas cinco álbuns de estúdio, o Velvet deixou seu legado, que acabou se tornando grandioso por antecipar fatores que o punk-rock, a new-wave e as bandas britânicas dos anos 80 – como o Echo & the Bunnymen, The Jesus & Mary Chain, The Smiths e outros – passariam a adotar, tornando o Velvet Underground em um grande mito do rock & roll. O Velvet foi o grupo mais anticomercial de sua época, mas sua música se tornou em uma grande len...

Jennette McCurdy: Um simples engano ou um grande talento descoberto?

Finalmente temos alguma grande estrela surgindo, pelo menos é o que eu acho. Não estou falando de Adele, ela também é brilhante, mas estou referindo-me a atriz e agora cantora, Jennette McCurdy, mais conhecida por interpretar Sam Puckett na série iCarly . Como foi bastante óbvio que isso fosse acontecer, quando o EP Not That Fade Away foi lançado previamente para ser lançado em seu primeiro álbum de estúdio – com nome de The Story of My Life e sem prévia para o seu lançamento – a crítica de grandes nomes como a Rolling Stone, a Allmusic e o resto das fontes importantes de música rejeitaram seu EP. Foi um grande erro. Mas é incrível a forma como Jennete (uma adolescente de 19 anos com um enorme talento) resolve nos surpreender com seus pensamentos e sentimentos sobre a vida e o que ela guarda para sua carreira. Primeiramente, o que mais surpreendeu foi seu estilo. Hoje em dia, em meio às luzes pop-eletrônicas, as garotas querem tornar-se grandes cantoras solo fazendo mús...

Interpol, 'El Pintor'

Esta banda tem o talento de criar discos de sons conflituosos e caóticos. El Pintor é uma Parede Sonora misturada com o rock britânico levado a sério do Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e Muse. As suas 10 faixas soam como mega explosões prontas a entrarem em seus ouvidos. São amplificadores, teclados e órgãos apocalipticos envolvidos em músicas como "All the Rage Back Home", que abre o quinto álbum do power trio americano. Conclusivamente, existem coisas boas aqui, nas quais a guitarra é um ponto forte no conteúdo de sua música. Levando em conta as sonoridades de seus materiais lançados no passado – Turn on the Bright Lights , de 2002, e Antics , de 2004 – El Pintor continua sendo primordial por seu som original e sem imitações. Seu som é limpo, porém é bastante barulhenta em termos de efeitos sonoros. Em "My Desire", os vocais do líder do grupo, Paul Banks, soam completamente abafados como se a canção estivesse tocando em uma rádio antiga, e assim está bem m...