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Jack White, 'Lazaretto'



Lazaretto – segundo trabalho solo de Jack White – é um esboço muito mais pesado, sujo e andrógino de Jack White: é o que mostra a faixa-título, uma mistura de rock galático-espacial, colocando uma série de distorções à lá Jimi Hendrix em sua guitarra. Blunderbuss era muito mais algo sensível e estranho que se transformou em algo genial, considerando uma estreia solo, mas Lazaretto traz Jack White em um momento de intimidade com "ele mesmo". Contudo, percebo toda a sua sensibilidade às influências que o rodeiam. Tudo completa com canções que só o próprio White seria capaz de criar, misturando uma espécie de doo-wop masculino ("Would You Fight For My Love?") em seu rock & roll. É de se surpreender com tamanha eficiência e equilíbrio.

Com tantas coisas malucas que permeiam pelo novo álbum de White, ele canta de forma mórbida, o que parece meio gótico, mas aqui eu me lembro de Jimi Hendrix, e não tem como não se lembrar do mestre que reinventou a forma de tocar uma guitarra. Um grande exemplo é "Three Women", que contém solos e riffs de guitarra poderosas que arrepiam a espinha e nos fazem ter a conclusões que o rock realmente está bem representado e nós como ouvintes, estamos bem servidos. A mesma coisa se atribui a faixa-título: um poderoso power guitar que coloca toda sua simplicidade na faixa, enquanto que "Temporary Ground" é um country folk de lembrar de Hank Williams, Joan Baez e Bob Dylan, se tratando de uma grande mistura em questão de características de grandes mitos dos dois gêneros. 

"Temporary Ground" é mais uma daquelas músicas que poderiam muito bem ser cantadas por uma grande interprete feminina que mesmo assim ficaria perfeito. Eu imagino esta canção na voz de Lucinda Williams, o que isso significa que é uma viagem ao tempo bem drástica e profunda. Contanto, suas músicas soam bem poderosas, alegres, mas também existem coisas mórbidas, tristes, angustiantes e góticas. Em ""Would You Fight For My Love?", eu vejo uma mistura do doo-woop de Phil Spector com a extravagância e exagero do que sempre fora a sonoridade do Queen. Aqui tem de tudo, e provavelmente existe uma porção de misturas que eu poderia ficar relatando aqui há horas. 

Mas se tem algo que eu vejo em Jack White e em poucos artistas é o futuro do rock & roll. Jack White tem tudo para fazer do futuro do rock bem próspero e com bons frutos. Desde o White Stripes e seu Elephant, de 2003, que levou a dupla poderosa ao auge, White tem crescido grandiosamente no ramo musical, se diferenciando da maioria dos artistas acostumados no comodismo da fama de sempre. Mas tudo foi questão de tempo para perceber quem veio para se tornar grande e quem veio para fazer uma carreira satisfatória. Em Lazaretto, White se firma de verdade em sua carreira solo, misturando o rock, blues, country, piano rock, rock progressivo, alguns fatores que levam aos estilos góticos. Não me canso de ouvir este disco, o seu segundo álbum em carreira solo, imagina os restantes que ainda estão por vir em toda sua vida?! 

Lazaretto é muito mais alegre, mais detestável, mais country, mais folk, mais vaudeville, mais rock & roll, que sua grande estréia no clássico Blunderbuss, de 2012. Ok, pode ser mais alegre ao fato da sonoridade de sua estréia ser mais obscura, mais chuvosa, mais progressivo, porém mais que competente. Mas Lazaretto tem mais carisma, poder, amostra de guitarras potentes, vozes doo-woop ao grande estilo Ronettes na versão masculina, um country ao estilo Everly Brothers, e como já disse, dozes de Queen e muito blues por toda parte. Jack White ainda continua iluminado e irresistível com sua moda gótica e sua sonoridade fortemente influenciada pelo rock do passado. 

Por Leonardo Pereira

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