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Uma noite de energia, pureza e originalidade



O segundo dia do Rock in Rio estava mais elétrico. O público comparado ao dia anterior que era destinado ao gênero pop, as guitarras tomam conta deste segundo dia. Meteoricamente, os destaques estavam cheios de vida, o que se tornou substancial para a noite que traria a abertura do Capital Inicial no palco Mundo.

Mas antes do melhor, o palco Sunset teve grandes destaques, como o Autoramas contando com a participação de BNegão, colocando bastantes letras conscientizadoras. No meu ver, o público – que ainda não era dos maiores e estavam arresém chegando – estavam curtindo agradavelmente nos âmbitos musicais deste grande evento. Em torno das 16 horas, o projeto Marky Ramone + Michale Graves foi pensada inteligentemente pelo baterista lendá-rio da banda punk Ramones, que em uma hora, conseguiu tocar 32 hinos punk da banda que fundou oficialmente a música punk no meio da década de 1970.

A bateria de Marky foi tão elétrica, rápida, precisa como foi nesta apresentação. Na medida que sucessos como "Rockaway Beach", "The KKK Took My Baby Away" e "Pet Sematary" eram executados com muita energia, mais gente começou a prestar atenção e a lotar os espaços abertos do palco Sunset. A intensidade era tanta que até tinha roda punk desde a primeira atração. Para quem é fã dos Ramones foi o melhor dia do Rock in Rio.

Depois, o Detonautas, Zeca Baleiro e Zélia Duncan começaram o tributo Viva Raul Seixas por volta das 17h30min da tarde. Pela primeira vez, um tributo tinha todo o repertório que o pai do rock brasileiro costumava executar em seus shows. O vocalista Tico Santa Cruz era um transfigurado, tentando reincarnar o velho Raul em músicas como "Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás", "Gitã" e "Tente Outra Vez". Foi um tributo à altura de Raulzito, colocando uma certa emoção nas características sonoras e nas vozes de Zélia Duncan, Zeca Baleiro e do próprio Tico Santa Cruz. Simplesmente um dos maiores destaques do palco Sunset.

Imediatamente depois do tributo a Raul Seixas ter acabado, o Capital Inicial entrava de corpo e alma com toda a energia em "O Bem, o Mal e o Indiferente", colocando todo mundo para pular. Com tamanha precisão, o vocalista da banda de Brasília, Dinho Ouro Preto, como sempre, consegue dominar o público, colocando eles para pular em "À Sua Maneira", fazendo uma versão mais alternativa que a original. Mais homenagens estavam para ser feitas, então foi a hora de Dinho tocar "Só os Loucos Sabem" em memória de Champignon e Chorão, em nome do Charlie Brown Jr. A reação do público foi de imediato, causando tamanha comoção. É em momentos como esses que nós, amantes do rock, percebemos que Chorão e Champignon se tornaram os ícones da nossa geração no rock brasileiro.

Além de tocar Charlie Brown, o Capital tocou "Mulher de Fases" dos Raimundos, fazendo do resto uma completa poeira de alta energia. A cada ação de Dinho, o público ia a loucura, correspondendo todas as expectativas do vocalista da banda. A banda tocou músicas consagradas pelo Aborto Elétrico, a banda mística do rock brasileiro que fundara a Legião Urbana e o próprio Capital Inicial.

Depois do protesto completamente punk de "Saquear Brasília", a banda encerrou com "Veraneio Vascaína", outro clássico do Aborto nas mãos de Dinho e companhia. Sem nenhum intervalo, do palco Mundo ao Sunset, o Offspring imediatamente entra em cena tirando todos de chão, criando em lugares distintos do público rodas punk com toda a energia colocada para fora de seus corpos. Para eles, o rock definitivamente havia se manifestado neste evento especial, trazendo todos os espíritos roqueiros habitarem dentro desta enorme tribo de tamanho global. Faixas como "Bah Habit", "Original Prankster", "All I Want" e "Want You Bad" fizeram transportar todos para outro mundo paralelo. Quando a banda norte-americana encerrou com "Self Steem", o vocalista Dexter Holland agradeceu os fãs.

No mesmo instante, Jared Leto e o 30 Seconds to Mars entraram em palco de forma bem diferentes e originais. Com suas bases influenciadas no space rock, grunge, metal alternativo, new prog e pós-hardcore, a banda colocou o melhor em todo o seu repertório e fez os brasileiros suspirarem em canções como "City of Angels", "Do or Die", "Search and Destroy" e outras. Além disso, o 30 Seconds to Mars roubou a atenção de todos também, estabalecendo uma certa dúvida quanto quem foi o melhor nesta noite. Jared Leto convidou um grupo de fãs para estarem com ele no palco no encerramento de sua apresentação, dando uma grande pitada de confetes no público. No final, ele se despede deixando o público anestesiado.

Quando Florence and the Machine entraram no palco, não se esperava tanto da vocalista Florence Welch, que ao contrário do que a maioria dos críticos brasileiros pensavam, da delicadeza na qual Florence interpretou suas músicas até mesmo quando o público parecia tão quieto – mas não significou que o espetáculo não estava convencendo – os fizeram cantar junto, fazendo desse momento uma grande e inesquecível recordação. Para muitos que ainda não conhecem, é uma banda de indie-rock britânica centrada no rock e na sua mistura com o soul – que por sinal, funcionou muito bem.

A massa foi abaixo quando Florence introduziu seu divisor de águas, "Shake It Out": uma linda canção com base nos estilos soul, R&B e gospel. Levantando suas mãos para alto, Florence parece uma miragem transcendental no palco, uma maravilha afrodisíaca de outro mundo, uma nova diva do pop-rock que, com sua doçura imaculadamente adorada, seus olhos meigos e seu sorriso sincero, conquistou o povo brasileiro neste Rock in Rio de tal for-ma que não há palavras certas para relatar.

Seus sons soam tão puros como a vocalista ruiva que interpreta "No Light, No Light" de forma tão romanticamente, mas ao mesmo tempo ela se coloca atenciosamente para os embalos corporais que a sua música remete a ela mesma e ao seu público. Em "Spectrum", ela canta com alma, convocando seu público que não a desgruda de seus olhos nenhum momento, e em "Dog Days Are Over", o público se entrega completamente – cantando e batendo palmas apaixonadamente – a Florence e ela retribue sua entrega de forma romântica. Quando ela se despediu, seu público concerteza ergueu as mãos aos céus, e agradeceu a Deus por Florence Welch e the Machine terem vindo para o Brasil se apresentar fantasticamente.

Depois do transcendentalismo de Florence, o que esperar pelo Muse?

A meia noite e doze, o trio britânico abriu com "Supremacy", um melodrama de teatro-rock que foi cantado por todos os brasileiros. O vocalista e guitarrista Matthew Bellamy é um grande gênio no que faz – ele faz e cria efeitos em sua guitarra de forma tão única e original que me faz lembrar Jimi Hendrix – e o estilo da sua banda é totalmente um rock de arena com mistura de elementos que se aproximam da eletrônica, do indie e do alternativo. Não é atoa que eles já lotaram o estádio de Wembley por duas noites consecutivas em 2007. 

Todos os tipos de conceitos podem ser aplicados para o Muse, que mistura seu som com conteúdos visuais, principalmente de seu atual trabalho, o álbum The 2nd Law, lançado em 2012. Em "Stockholm Syndrome", uma guitarra poderosa ao estilo death-metal, que mais tarde retorna com uma bateria retumbantemente potente. 

O público brasileiro se mostrou muito amável para o Muse. Em "Hysteria", novamente estavam ao alvoroço perante as guitarras elétricas e batidas de bateria potentes. No geral, o repertório da banda londrina fizeram todo mundo sair do chão, encerrando a segunda noite do Rock in Rio com um fator que estava faltando há muito tempo em algumas edições anteriores do Rock in Rio: atitude.

Por Leonardo Pereira

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