Visionários, atemporais, marcantes e brilhantes: a carreira do Pink Floyd é definida nesta maneira. Eles começaram a revolução no rock progressivo nos anos 60, quando Syd Barrett formou a banda com Roger Waters, Richard Wright e Nick Mason tocando rock psicodélico, porque a cena psicodélica estava ganhando força na Inglaterra. Com problemas de LSD, Barrett ficou incapaz de liderar o grupo, ocasionando na sua saída do Pink Floyd, trazendo David Gilmour para substituí-lo, mudando completamente o estilo e o futuro da banda. Sem Barrett, eles enfrentaram uma época difícil, experimentando sonoridades para se reencontrarem. De 1968 até a entrada dos anos 70, o quarteto de rock progressivo se tornou totalmente "curado" de seu passado, mas Barrett estava em seu inconsciente, o que ocasionou com o impacto e a consolidação de seu sucesso com The Dark Side of the Moon (1973), obra-prima que deixou o grupo mais de quatro décadas ininterruptas nas paradas americanas. Com isso, vieram novas jóias, fazendo desta época um momento de glória. A banda passou os anos 80 tendo contendas até a saída de Waters da banda em 1985, deixando o grupo com Gilmour, Wright e Manson. Até então, sob a liderança de Gilmour, a banda lançou mais três discos de estúdio – o último, seu canto de cisne The Endless River, de 2014 – trazendo novos sucessos que ficariam consolidados na carreira da banda. Sua discografia é uma radicalidade de estilos dentro do rock progressivo. É o extremo!
The Piper at Gates of Dawn (1967)
Foi aqui que tudo começou: o rock esquisito e genial de Syd Barrett na estréia do Pink Floyd é uma série de inúmeras canções originais que contam várias histórias contendo gnomos ("The Gnome"), bicicletas ("Bike"), e espantalhos ("The Scarecrow"), além de Barrett viajar literalmente no psicodélico como se estivesse no espaço ("Interstellar Overdrive"). Todo conjunto da obra é uma grande marca de Barrett – até o título do álbum (alusão ao conto infantil O Vento nos Salgueiros, de Kenneth Grahame) – que mostra o quanto o Pink Floyd poderia ser uma lenda do rock psicodélico, como de fato, comprova dois grandes fatos: sua estréia é um marco psicodélico; Syd Barrett é o inconsciente da genialidade do Pink Floyd desde sua saída do grupo um ano depois e até os dias de hoje.
A Saucerful of Secrets (1968)
Barrett estava deteriorando mentalmente e não conseguia mais ser aquela máquina genial de compor. David Gilmour foi chamado para substituir o guitarrista gênio louco e A Saucerful of Secrets é o resultado de um trabalho duvidoso em termos sonoros, mas ainda contém uma única jóia, ainda sendo de autoria de Barrett, a divertida e psicodélica "Jugband Blues", de três minutos. Tirando isso, das sete faixas, cinco foram cantadas pelo tecladista Richard Wright, o que mostra uma certa desconfiança no segundo disco. Apesar da dificuldade encontrada sem um líder, a banda não desistiria de se descobrir musicalmente. Mas iria demorar para eles se consagrarem.
Music from the Film More (1969)
Nesse estágio de decadência, eles estavam com garra de se descobrirem, mas para isso, eles teriam que se arriscar. E de fato se arriscaram. Seu terceiro trabalho é a trilha sonora do filme inglês More, lançado no mesmo ano. De certa forma, as canções soam estranhas: por se tratar de um longa metragem, as faixas podem ser instrumentais e estranhas. O lado ruim é que em todas as 13 faixas são reconstituídas das próprias músicas usadas no filme. Sim, de fato é um trabalho menos procurado dentro deste catálogo em decorrência de que o grupo ainda estava prestes a acabar, pois sem a sorte ao seu lado, seu fim estava sendo muito comentado na época.
Ummagumma (1969)
Tentando esquecer do fracasso da trilha sonora de More, chega nas lojas o quarto trabalho da banda. Ummagumma é um álbum duplo – disco um foi gravado ao vivo; disco dois foi gravado no estúdio – que na sua maioria é um trabalho conceitual. Além de ser conceitual, seu conteúdo de estúdio é totalmente instrumental e experimental. Wright foi o que mais se dedicou ("Sysyphus"), enquanto que Gilmour ("The Narrow Way") e Mason ("The Grand Vizier's Garden Party") contribuíram bem e Waters contribuiu com apenas duas faixas ("Greatchester Meadows" e "Several Species of Small Furry Animals Gathered Together in a Cave and Growing with a Pict"). Não atingiu muito as paradas, mas Ummagumma foi o precursor da música ambiente e instrumental na sonoridade dos Floyd.
Atom Heart Mother (1970)
Atom Heart Mother foi o primeiro disco dos Floyd a chegar no topo das paradas britânicas e sua capa se tornaria uma das mais icônicas da história do rock & roll. Diferente de Ummagumma, o quinto álbum da banda foi marcado pela qualidade em vez de quantidade: em mais de 51 minutos apenas cinco músicas entraram para o álbum – a faixa-título e "Alan's Psychedelic Breakfast" (os instrumentais mais longos do disco) – sendo três músicas contendo vocais de cada autor de sua música – Waters ("If"), Wright ("Summer '68") e Gilmour ("Fat Old Sun"). O público começou a prestar atenção no Pink Floyd, e Atom Heart Mother foi grande responsável, apesar de Gilmour ter declarado anos mais tarde que "era uma boa peça para ser jogada no lixo e não ser ouvida por mais ninguém". É pomposo.
Meddle (1971)
Meddle marca a mudança no som dos Floyd. Repetindo a fórmula do conceito das canções de Atom Heart Mother, o sexto trabalho dos Floyd tem seis faixas, sendo que apenas uma é instrumental e é longa – a épica "Echoes", de mais de 23 minutos de duração. A banda começava a achar o caminho certo para seguir em sua carreira, e Meddle foi o principal instrumento de crescimento para o grupo, que foi começando a se tornar em uma das maiores bandas da Inglaterra e já se tornando conhecida nos EUA, mas sem força. "Meddle está entre os meus favoritos", disse Gilmour. "Para mim foi o princípio da caminhada do Pink Floyd". Gilmour disse tudo!
Obscured by Clouds (1972)
No segundo trabalho como banda sonora, Obscured by Clouds – trilha do filme francês de aventura La Vallée, filmado no mesmo ano – é o mais coeso de uma trilha gravada pelo Pink Floyd, ao contrário do que foram as músicas para o filme More, de 1969. A banda arrisca de forma mais inteligente pela experiência que o quarteto já havia ganhado no estúdio. Foi muito bom, porém pouco lembrado em decorrência de que o álbum não impactou nos EUA, ficando apenas no Top 50 das paradas americanas. La Valléé foi o filme que mais impactou no cinema francês naquele ano, trazendo o nome dos Floyd famoso na França.
The Dark Side of the Moon (1973)
Simplesmente, é a obra-prima do Pink Floyd: épico, profundo, vivo, genial e de extrema importância na história do rock progressivo. Com temas explorados como a cobiça, doença mental e envelhecimento, The Dark Side of the Moon deu ao grupo o topo do rock progressivo e do rock & roll em geral, deixando a banda nas paradas americanas e só sairia depois de três décadas após o seu lançamento, sendo o disco que mais ficou nas paradas de forma ininterrupta. Em Dark Side, os Floyd pareciam convictos na meteórica "Time" – onde misturam despertadores de relógio, o que deixou a música marcante – enquanto que o sax e a guitarra explodem na cobiçosa "Money" e o sax volta a roubar a cena na romanticamente poderosa "Us and Them", com um ritmo delicioso que atingem profundamente os corações de todos que já ouviram esta jóia. Dentro do disco, músicas como "Brain Damage" – relato sobre a doença mental, mais precisamente sobre Barrett (provavelmente) – e a final épica com a intergalática e profunda "Eclipse" – com Waters arrebentando nos vocais – encerra The Dark Side of the Moon de forma fantástica e brilhante. O álbum deu a salvação para o quarteto, além de estreiar a sua época de perfeição, na qual seus próximos discos seriam aclamados mundialmente.
Wish You Were Here (1975)
Depois do sucesso que eles conseguiram através de sua obra-prima, o Pink Floyd retorna com esta grande relíquia que fala relata a saudade de seu ex-líder. Wish You Were Here é um verdadeiro tributo ao grande gênio que se tornou louco, o inconsciente da genialidade do Pink Floyd. Com toda essa homenagem, é possível ouvir na épica "Shine on You Crazy Diamond" uma verdadeira lembrança do "diamante louco". Repleto de homenagens, na gravação da faixa-título, um fato emocionante: o reencontro do "diamante louco" com o Pink Floyd durante as sessões do disco, causando um choque emocional e visual de como era Barrett – lindo e esbelto – e como se encontrava naquele momento – gordo e careca. Esse disco não é só uma homenagem ao seu ex-mentor, mas em Wish You Were Here se encontra críticas sociais e políticas contra o sistema ("Welcome to the Machine") e ("I Have a Cigar"), além de sua capa trazer uma metáfora visual de quem é a banda e quem é Barrett.
Animals (1977)
Após a homenagem-despedida de seu "diamante louco" encontrado em Wish You Were Here, Animals marca uma nova etapa na carreira sólida do Pink Floyd na qual o baixista Roger Waters estava inconformado com a política inglesa. E era isso que seria o tema central do 10º disco de estúdio dos Floyd. Nesse caso, são cinco faixas contendo uma abordagem filosófica e metafórica sobre a sociedade. Mas ouvimos fatores que lembram um pouco os álbuns passados, como em "Dogs", a guitarra de Gilmour parece o solo contido em "Time", de The Dark Side of the Moon, de 1973. Porém, Waters é bastante claro na crítica raivosa nas duas versões de "Pigs on the Wing" e na calórica "Pigs (Three Different Ones)". Animals é um marco por ser o primeiro álbum de protesto dos Floyd. Seu próximo trabalho seria mais além.
The Wall (1979)
Seguindo a tendência conceitual de seus três discos passados, The Wall é um álbum duplo de protesto, além de ser uma ópera-rock que conta a história do personagem fictício Pink, na época da Segunda Guerra Mundial, na qual é ridicularizado por seus professores, superprotegido por sua mãe e divorciado de seu casamento, fazendo com que Pink se isolasse da sociedade através de um muro metafórico. Sim, há muitas faixas de sucesso que retratam perfeitamente a ópera-rock como as versões de "Another Brick in the Wall", a impiedosa "The Happiest Days of Our Lives", a luxúria alarmante de "Young Lust" e a depressiva "Comfortably Numb", que Gilmour explode com solos arrepiantes de guitarra, soando o desabafo e o triste clamor por socorro do personagem – que chegaria no julgamento final em "The Trial". Apesar de ser um trabalho dos Floyd, a história e a maioria das canções foram obra de Roger Waters, que ganharia os direitos do álbum na justiça futuramente. E os problemas começaram a surgir.
The Final Cut (1982)
Marcado pelo domínio de Waters como principal mentor do grupo, The Final Cut é o álbum mais profundo e depressivo já gravado pelo Pink Floyd. Em meio a conflitos internos, o tema central do disco é a Segunda Guerra Mundial – uma homenagem de Waters para seu pai, Eric Fletcher Waters, que foi morto na Segunda Guerra. Além disso, Waters mostra sua visão sobre o mundo ("The Post War Dream", "The Gunner's Dream", "Get Your Filthy Hands Off My Desert", "The Fletcher Memorial Home" e "Not Now John"), contos envolvendo paranoias de veteranos de guerra ("Your Possible Pasts", "The Hero's Return", "Paranoid Eyes" e a faixa-título) e os solos de guitarra profundos e arrepiantes de Gilmour, dando emoção em algumas das músicas de Waters. The Final Cut marca o fim de uma época de ouro da banda, que já concordava que não era mais a mesma coisa em relação aos conflitos constantes. Este foi o último álbum do Pink Floyd com Roger Waters – que sairia da banda em 1985 e disputaria com Gilmour, Mason e Wright os direitos do nome da banda. Era o fim dos dias de glória.
A Momentary Lapse of Reason (1987)
Após uma extensa batalha judicial envolvendo Waters contra Gilmour, Mason e Wright pelos direitos do nome do Pink Floyd e a vitória do trio remanescente do grupo, os três seguiram em frente sem o seu antigo mentor dos tempos de ouro do grupo e lançaram A Momentary Lapse of Reason, seu primeiro trabalho em cinco anos de hiato. O trabalho em si foi o suficiente para chamar atenção de todos, principalmente com a profundamente alarmante "Learning to Fly", os instrumentais competentes "Yet Another Movie/Round and Around" e "Terminal Frost" e a poderosa "On the Turning Away" são os pontos mais fortes de Reason. Waters criticou o álbum pelo seu conteúdo letrista, mas os Floyd continuaram em frente, com megas produções de suas turnês, transformando no Pink Floyd em uma grande empresa musical.
The Division Bell (1994)
Sete anos se passaram desde que o grupo não lançava nenhuma novidade, até que chegou The Division Bell, o 14º álbum de estúdio da banda. Desde então, o tema central sempre fora a morte e a divisão, separação – em todos os sentidos –, afinal de contas, o próprio nome sugere. Contudo, soa muito mais equilibrado que o seu antecessor A Momentary Lapse of Reason. Em "High Hopes", Gilmour canta consciente e toca sua guitarra de forma que arrepia nossa pele; "Lost for Words" é provavelmente a mais doce faixa de todo o disco; "What Do You Want from Me" é um rock de garagem que brinca com o rock progressivo e os dois se misturam; "Poles Apart" é profunda; "Marooned" é uma guitarra cantante e "A Great Day for Freedom" é um hino em pról da liberdade – uma alusão a queda do muro de Berlim. Com esse disco, eles realizaram a maior turnê da carreira da banda, se despedindo aparentemente do cenário pop por um longo tempo.
The Endless River (2014)
Desde que The Division Bell foi lançado, já se passaram 20 anos e muita coisa aconteceu desde que os Floyd pararam: no Live 8, o Pink Floyd se reuniu para se apresentar no festival beneficente com a formação clássica. Depois disso, surgiram inúmeras hipóteses de uma possível volta do grupo, mas era sempre desmentido por empresários de cada membro dos Floyd, mas foi com a morte de Wright em decorrência de um câncer que acabou com qualquer chance de volta oficial da banda. Após terem descobertos sessões que não entraram para o disco The Division Bell, Gilmour e Mason resolveram regravá-las e lançaram The Endless River: o canto de cisne de Wright. São 18 faixas, sendo 17 instrumentais de grande talento e virtuosismo e "Louder Than Words" é o sucesso do disco, sendo a única música cantada por Gilmour. Como está na resenha, The Endless River é um epitáfio surpreendente de Wright e da carreira do Pink Floyd.
Por Leonardo Pereira
Grato pelas excelentes informações sobre os álbuns. Enriqueceu ainda mais esta obra de arte chamada Pink Floyd!!!
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