Com uma expectativa notável, Tom Petty é um artista que sempre tenta se reinventar. Desde que este americano surgiu em meados dos anos 1970, o rock & roll estava com as atenções voltadas para bandas hard-rock – como o Aerosmith, a agressividade do Kiss e a teatralidade e extravagância do Queen – mas, desde então, sua sonoridade básica foi conquistando aos poucos os americanos. Foram surgindo seus primeiros discos, que foram se destacando, até que entrou nos anos 1990 já consolidado como um grande artista de sucesso que era, e sua vocação isto na qual estava vivendo. Mas o que Hypnotic Eye tem a ver com isto? As onze faixas deste novo material – seu décimo terceiro álbum com os Heartbreakers e o seu primeiro disco em quatro anos – nos fazem voltar ao tempo.
A banda ainda consegue se manter ativa com muito poder, atitude e experiência. Esta experiência é um dos fatores importantes nas quais ajudaram Hypnotic Eye a ser um álbum musicalmente competente. E o exemplo está logo no começo. Em "American Dream Plan B", tudo soa bem enérgico, colocando todo seu fogo e foco numa slide guitar poderosa, lembrando os velhos tempos em seus dias de glória. O vocal de Tom soa poderosa ao mesmo que a bateria de Steve Ferrone soa completamente forte e bem qualificada. Tudo soa como nos anos 1980, quando a banda estava em uma das melhores nos EUA. A temática do disco soa forte e consistente, nunca ouvido antes desde Mojo, de 2010, mas há diferenças entre os dois álbuns. Mas os dois tem algum em comum.
Ambos suas sonoridades soam parecidas. Parece mais uma volta ao tempo, cada disco com seu ritmo, com suas regras, com sua amplitude. Ouvindo Hypnotic Eye, percebo um Tom Petty totalmente experiente e tranquilo, sem aquela "apreensão" que um artista novo tem quando lança um disco para as pessoas ouvirem. Nada para ele é novidade, pois a mesma já passou. Não existe mais nervosismo, o que ficou em seu coração foi o amor: O sentimento mais nobre pela música. Hypnotic Eye é uma volta às raízes tão antiga que isso se torna frequentemente atual. É aqui que está a grande ironia. Eu brinco com as palavras, mas Petty brinca com as melodias, e voltando ao tempo em sua estréia – Tom Petty and the Heartbreakers, de 1976 –, You're Gonna Get It!, de 1978, e Damn the Torpedoes, de 1979, seu grupo de músicos das antigas permanecem firmes musicalmente, mas não perderam a alegria genuina de fazer música.
Uma das grandes provas disso está em "Power Drunk". Este poderoso blues-rock se remete aos velhos tempos de You're Gonna Get It!, contendo um ritmo mais lento, porém pesado e com os riffs da guitarra soando com ampla atitude e seus solos à la Eric Clapton no início do Cream, nos anos 1960. E o solo vai se estendendo, como se fossem crianças brincando de esconde-esconde, mas a "brincadeira" dos Heartbreakers foge de qualquer comparação idiota, e sim, uma mera brincadeira e improvisação destes veteranos do rock que tocam por prazer, amor e jovialidade. Há mais faixas como estas, como a folk-indie "Full Grown Boy", na qual Petty soa fantasticamente estilístico.
Com as guitarras tocadas de maneira suave e o órgão resplandecido, os solos bluesísticos soam como verdadeiras cachoeiras caindo ao ar livre, sem nenhum solo para controlar o que a ciência têm defendido há séculos. É questão de imaginação músical e você, que é amante de música, vai sentir. Hypnotic Eye tem grandes canções: "Fault Lines", com uma bateria muito presente, ritmando com a guitarra distorcida. Concerteza, é um dos pontos fortes e poderosos do álbum. Contudo, tudo soa bem simples, sem exagero e solos que poderiam servir de enrolação e enfeite para a faixa. Tudo está muito bom até aqui. Mas há momentos de explosão.
Quando se fala em "explosão", é preciso dizer que todo este novo disco é explosivo – no bom sentido. "All You Can Carry" soa muito mais como uma peça de acabar com tudo, sacudir a festa e levantar as mãos para o entretenimento. A grande porção derramada pela faixa é a grande, porém livre sintonia da cozinha dos Heartbreakers – o baixista Ron Blair, o segundo guitarrista Benmont Tench e o baterista Ferrone – mas nunca se esquecendo da incrível disciplina vocal de Petty. É o que deixa a canção cada vez mais atraente, assim como as demais faixas. Hypnotic Eye é blueseiro, roqueiro e profundo, assim como Petty e os Heartbreakers.
Por Leonardo Pereira
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