Pular para o conteúdo principal

The Black Keys, 'Turn Blue'



O oitavo album do Black Keys simplesmente possui mais chamas ardentes do rock & roll desde o seu blues poderosamente bem executado de Brothers, de 2010. Turn Blue é o seguimento da banda de Akron, Ohio, saindo um pouco do som rock de garagem de El Camino, de 2011, que acabou voltando um pouco ao passado, e em especial, ao começo de carreira do duo de rock. Com a técnica e talento da guitarra de Dan Auerbach e da bateria que faz se mover com tamanha preciosidade de Patrick Carney, a primeira faixa é uma maestria que envolve a psicodelia. "Weight of Love" é uma grande chama roqueira pronta para se libertar entre os solos loucos que fazem renascer um pouco o jovem Eric Clapton dos anos 1960.

Obviamente, a sonoridade de Turn Blue soa muito mais ambiciosa, mas em troca, a banda teve que pagar o preço. Muitos que já ouviram Turn Blue reclamam que as letras soam muito mais depressivas, desabafando muito precisamente sobre o fim do amor e o casamento, rompimentos e etc, o que isso acabou ocasionando em um possível tédio. Contudo, o blues que o Black Keys colocou aqui já veio de outras ocasiões: muitas vezes, as letras dos maiores artistas de blues e etc, eram sobre o amor, ou sobre o fim de um relacionamento, o que por vezes se torna normal e até essencial para se criar um estilo que há muito tempo não é incorporado novamente na música pop em pleno século 21.

Esses mesmos assuntos estão aqui em Turn Blue do começo ao fim. "Weight of Love" é uma porrada de quase sete minutos que coloca toda a prova da influência do Cream no som característico do Black Keys; uma sessão de improviso que lembra muito os renomes de sucesso dos anos 1970, como Emerson Lake and Palmer. Os vocais do guitarrista Dan Auerbach soam completamente bem cantados na medida em que ele canta o refrão principal e os seus solos estilo Eric Clapton chegam para trazer o mesmo fogo do Verão do Amor, do caos e da psicodelia. Isso tudo é histórico, a forma como apenas uma música pode nos fazer viajar por diferentes épocas de forma mental, se imaginando como seria viver em uma década de dúvidas em todos os setores sociais da época: o preconceito racial, a guerra do Vietnã, o ódio dos americanos a Richard Nixon, o fim dos Beatles e o ditado que ficou conhecido: "faça amor, não faça guerra".

Turn Blue segue os mesmos moldes: com Brian Burton (mais conhecido como Danger Mouse) na produção desde Attack & Release, de 2008, o som do Black Keys mudou um pouco, mas não deixou de lado a característica principal. A única coisa que Danger Mouse acrescentou na banda foi o livre momento de criatividade entre os dois membros e a inclusão do baixo, sendo tocado de maneira mais viva. Por exemplo, dá para perceber em "Fever": é uma espécie de rock característico do Black Keys, porém como uma pitada de som ao estilo do diretor Mouse, que colocou uns sons de teclados bastante parecidos com "Delirious", de Prince, do álbum 1999, de 1982.

Os seus solos nesta música são completamente profundos, mesmo que sendo executados rapidamente. O som dos solos nos deixa pensar se não foi gravado duplamente, para deixar o som do solo mais forte e potente. Brian May, guitarrista do Queen, fazia muito isso, e era um método que muitos artistas também aderiram. 

Há mais influências por aqui: "Bullet in the Brain" é uma porrada agressiva que mostra já pelo título que agora há um recomeço para tudo no amor. E em seu som, Mouse colocou um som bastante psicodélico, lembrando bastante Jerry Garcia nos tempos de Grateful Dead e Carlos Santana em termos de sonoridade e vocais. Tudo começa a estourar e a girar em nossas cabeças, como se estivéssemos viajando para um outro universo, algo completamente psicodélico. Sem ácido, sem droga, sem bebida, "Bullet in the Brain" é algo que te choca musicalmente. Talvez é uma das melhores faixas de Turn Blue, junto com "Weight of Love".

Contudo, seu som soa completamente parecido com trilhas sonoras para filmes de faroeste. O início de "Weight of Love" com violões bem forasteiros dá um grande exemplo. Já em "In Time", serviria de forma perfeita para entrar em um filme de Quentin Tarantino e por ai vai. É uma brincadeira rítmica contendo o baixo e a bateria em um refrão poderoso cantado por Auerbach. Na medida, os solos começam a contornar e dar um detalhe bastante interessante na música, enquanto o refrão de duas camadas é executado. "You've got a worried mind/I've got a worried heart/You don't know what to do", canta Auerbach em uma poderosa mistura de R&B e riffs de blues que todos estavam com saudades desde o audaciosamente bluesístico Brothers, de 2010.

Mas a banda também sabe ser simples. A faixa-título mostra como a banda sabe atacar a todos com um simples blues e rockabilly misturado em sua própria forma, no jeito do Black Keys. Também se trata de uma espécie de "sonho", com um som muito mais cool, colocando uma espécie de improvisação no fundo – na qual também, o resultado ficaria agradável se fosse uma canção instrumental. Ao mesmo tempo que a faixa-título todos esses significados, tudo parece estar muito mais louco, falando psicodelicamente.

Dentro de Turn Blue, há momentos bastante tensos: em "Year in Review", a faixa concerteza tem a ver com os desentendimentos com a esposa de um dos membros da banda. "Why you always wanna love the ones who hurt you?/Then break down when they go and desert you", Auerbach coloca toda a sua raiva e dúvida na música que mistura os solos mais bem elaborados, porém simples. Da mesma forma que dentro desse assunto e contexto, em "It's Up to You Now", Auerbach soa totalmente agressivo: "You smoke cigarettes and you act like a clown if you want/It's up to you now", imediatamente que a sonoridade e o ritmo mudam completamente para colocar um certo caos no ambiente musical da sétima faixa, dando um tom de improvisação, mostrando como a dupla sabe fazer muito bem.

Mas tudo há um momento peculiar: em "Waiting on Words", é uma espécie de despedida quanto ao momento em que os dois personagens estiveram juntos. Um dia, quando não dá mais certo um relacionamento, é necessário que cada um siga a sua vida, é isso que mostra "Waiting on Words", se mostrando cada vez mais tranquilo, convincente e positivo para o que vem futuramente. A mistura da bateria de Carney com os solos eloquentes e ardentes de Aerbach soam fantásticos. 

Levando em conta tudo o que eu ouvi, foi a primeira vez em que o Black Keys gravou um álbum coeso, acessível e equilibrado. Comparando com Brothers (2010) e El Camino (2011), estes dois discos foram bons, mas pecaram em originalidade e equilíbrio. Turn Blue foi diferente: foi original e equilibrado. Todas as suas instrumentações são muito mais precisas e mais bem tocadas, e o seu rock de garagem foi colocado de lado para engrandecer o seu som com algo muito mais maduro e ambicioso, algo que toda banda de rock sonharia em poder realizar. É o melhor álbum do Black Keys até o momento.

Por Leonardo Pereira

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

The Velvet Underground: Discografia Comentada

Qual foi a banda americana que mais influenciou os futuros grupos de rock britânicos? E quem foi a banda americana mais odiada em sua época e reconhecida como clássica nas décadas seguintes? É óbvio que é o Velvet Underground. Formado em 1964 por Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Angus MacLise, o grupo ficou conhecido pelo seu som pessoal e visionário, nas quais, com as composições sujas de Reed falando de drogas e diversos problemas sociais, o Velvet influenciaria outros artistas de características parecidas. Em apenas cinco álbuns de estúdio, o Velvet deixou seu legado, que acabou se tornando grandioso por antecipar fatores que o punk-rock, a new-wave e as bandas britânicas dos anos 80 – como o Echo & the Bunnymen, The Jesus & Mary Chain, The Smiths e outros – passariam a adotar, tornando o Velvet Underground em um grande mito do rock & roll. O Velvet foi o grupo mais anticomercial de sua época, mas sua música se tornou em uma grande len...

Jennette McCurdy: Um simples engano ou um grande talento descoberto?

Finalmente temos alguma grande estrela surgindo, pelo menos é o que eu acho. Não estou falando de Adele, ela também é brilhante, mas estou referindo-me a atriz e agora cantora, Jennette McCurdy, mais conhecida por interpretar Sam Puckett na série iCarly . Como foi bastante óbvio que isso fosse acontecer, quando o EP Not That Fade Away foi lançado previamente para ser lançado em seu primeiro álbum de estúdio – com nome de The Story of My Life e sem prévia para o seu lançamento – a crítica de grandes nomes como a Rolling Stone, a Allmusic e o resto das fontes importantes de música rejeitaram seu EP. Foi um grande erro. Mas é incrível a forma como Jennete (uma adolescente de 19 anos com um enorme talento) resolve nos surpreender com seus pensamentos e sentimentos sobre a vida e o que ela guarda para sua carreira. Primeiramente, o que mais surpreendeu foi seu estilo. Hoje em dia, em meio às luzes pop-eletrônicas, as garotas querem tornar-se grandes cantoras solo fazendo mús...

Interpol, 'El Pintor'

Esta banda tem o talento de criar discos de sons conflituosos e caóticos. El Pintor é uma Parede Sonora misturada com o rock britânico levado a sério do Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e Muse. As suas 10 faixas soam como mega explosões prontas a entrarem em seus ouvidos. São amplificadores, teclados e órgãos apocalipticos envolvidos em músicas como "All the Rage Back Home", que abre o quinto álbum do power trio americano. Conclusivamente, existem coisas boas aqui, nas quais a guitarra é um ponto forte no conteúdo de sua música. Levando em conta as sonoridades de seus materiais lançados no passado – Turn on the Bright Lights , de 2002, e Antics , de 2004 – El Pintor continua sendo primordial por seu som original e sem imitações. Seu som é limpo, porém é bastante barulhenta em termos de efeitos sonoros. Em "My Desire", os vocais do líder do grupo, Paul Banks, soam completamente abafados como se a canção estivesse tocando em uma rádio antiga, e assim está bem m...