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Lady Gaga, 'Artpop'


Tentando misturar música pop com arte, Lady Gaga acaba escorregando no clichê

Artpop, de Lady Gaga, está a um passo de ser considerado o novo Aladdin Sane da nossa década. Com sua androginia estando em moda e fazendo de seus Little Monsters os fãs mais fiéis de um artista na música pop da atualidade, a música de seu quarto álbum de estúdio possui o rótulo: "Faça o que você quiser". Percebo que desde a chegada de Stefani Germanotta, esta diva nunca tinha ido tão além musicalmente como ela foi em Born This Way, de 2011. Por sinal, eu poderia ser mais visionário ao afirmar que Lady Gaga foi mais além em Artpop.

Certamente, por você ser fã, poderá achar estranho este álbum, mas a sua parcialidade a ela não poderão entrar nessa avaliação. O fato é que, se Gaga quer evoluir e fazer história, ela não pode estar na mesmice de sempre. Pela primeira vez desde The Fame (2008), Gaga volta a ser uma garota sexy, com perucas extravagantes que chegam perto de estilos semelhantes à uma Audrey Hepburn loira. Posso me referir da mesma maneira em relação a sua música. Aqui, ela soa como se estivesse no passado, em "Judas", mas quando percebemos é "G.U.Y.". Da mesma forma que a faixa que abre Artpop, "Aura", soa totalmente bizarro, dando uma estranheza no início, mas vamos nos acostumando com a música que certamente virará um sucesso nas paradas de sucesso no mundo todo.

Curiosamente, Gaga tomou as atenções: o começo de Artpop é estranho e tem um forte conteúdo sexual, mas fica longe de ser erótico e sensual. Ela aplica o tiro certeiro com muita rapidez e competência: coordenando um humor de uma drag queen na intergalática "Venus" – a "Space Odity" de nosso tempo – e corteja um amante por falta de seu namorado em um final de semana na furtiva "X Dreams". Contudo, seu som soa totalmente melhorado em relação a Born This Way, porque seu antecessor era mais eletrônico, pronto para estourar apenas nas pistas de dança. Não havia outro lugar para estourar senão a discoteca.

Mesmo assim, Lady Gaga acaba sonhando, voando e se reproduzindo musicalmente. Ela viaja bastante nos ritmos grooves e R&B e se apaixona por seu próprio jogo de palavras que provavelmente será concorrido ao Grammy. Em meio a todas essas canções, há uma energia muito mais contida, apenas quando necessária. Há uma liberdade artística maior aqui em Artpop. Um grande exemplo do que estou relatando é em "Dope", produzido por Rick Rubin, o produtor conhecido por produzir grandes pérolas como Licensed to Ill, dos Beastie Boys, e Red Blood Sex Magik, do Ret Hot Chili Peppers: trata-se de uma balada bombástica, chegando no mesmo nível do rock & roll, falando sobre posse de drogas e relaciona junto com problemas amorosos, indo de Little Richard para o rock épico de Elton John e passando a risca de Meat Loaf.

Depois de conhecer o irreconhecível por dentro de Artpop, percebemos uma mudança artística e de composição dentro dos fatores que compoem ao seu todo a música de Gaga. Desde The Fame, The Fame Monster e Born This Way, a cantora trabalhou em suas composições com RedOne, Fernando Garibay, contando com pessoas que estão incluidos nos créditos de produção artística como Madeon e Will.i.am, mas as coisas começaram a piorar quando, há uns dois anos atrás, Gaga cancelou uma turnê mundial para se recuperar de uma lesão séria sofrida no quadril. Mas as coisas estão voltando ao seus devidos lugares, definitivamente.

Por Leonardo Pereira

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