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Animal Collective, 'Centipede Hz'



Dentro do 10º álbum de estúdio do Animal Collective, uma banda experimentalista neo-psicodélica, há o melhor trabalho do grupo desde muitos anos. Mas o que mais chamou a atenção é que Centipede Hz explora sua música ao extremo: era como colocar um exército de soldados psicodélicos enfrentando uma grande batalha em busca do topo. Mas veja bem, esse grupo são místicos do indie-rock que acabaram vindo do submundo do underground – justamente o que o Grateful Dead era para a cena musical de San Francisco ou que o Television havia sido para os punks da CBGB. Embora eles terem iniciado suas carreiras nos anos '2000, eles já haviam mostrado seu grande propósito: fazer o mundo entrar nessa vibe positiva e refazer o que grandes artistas como Janis Joplin, Jimi Hendrix e o próprio Grateful Dead fizeram para a cultura psicodélica. Embora Centipede Hz fosse apenas "mais um tipo de experimentação sonora e esquisita", este novo trabalho do grupo veio para impactar as pessoas.

Eles andaram tropeçando durante a década passada, cansaram de se levantar, mas caíam novamente. Não tinha como afirmar que o Animal Collective se transformasse em uma grande promessa do novo milênio. Mas o que vimos aqui foi uma grande volta às raízes do rock de garagem, ainda que, de certo modo, muito semelhante com a sonoridade roqueira e esquisita do Radiohead. Um grande exemplo é em "Wide Eyed": uma faixa sem escrúpulos que lembra muito bem o Pink Floyd da era The Pipper at Gates of Dawn, de 1967, quando o líder da banda britânica era o genioso maluco Syd Barrett. Apesar de loucas, elas são bem alucinógenas; "Moonjock" abre utopicamente com explosões e fortes ruídos. Não é a primeira vez que eu ouço um início épico como o que se encontra aqui.

Mas as coisas são tão doidas que eu tenho muitas perguntas para fazer, mas não adiantaria absolutamente nada. Eles são duvidosos e impertinentes. Não conseguiremos entender o que eles realmente querem dizer. Às vezes, não há um rock bastante melodramático e debochado que possa mostrar o que esses caras loucos pudessem fazer para mostrar que eles são os "caras". "Rosie Oh" é outra coisa que fixa com batidas meio eletrônicas, mas que são agradáveis de serem ouvidas. 

Mas sabem de uma coisa, não é certo fazer grandes comparações, mas o sentimento linear de Centipede Hz me lembra Pet Sounds, o revolucionário álbum dos Beach Boys de 1966 que inovaria todos os discos, seja rock, reggae e outros estilos. Mas não se trata de inovação, mas, sim de semelhança grandiosamente boa para um disco de rock psicodélico. Em "New Town Burnout", os vocais de Avey Tare são distorcidos e misturados com as batidas repetidas em segundos após a liberação da batida anterior de Panda Bear e mostra um festival de teclados elétricos. Mas é assim que as coisas funcionam, principalmente em um estilo que eu adoro, principalmente quando se trata de experimentalismo simples com rock e ritmos estranhos. Eles trouxeram um pouco de Amnesiac (2001) e In Rainbows (2007), ambos do Radiohead. E o Radiohead é a grande inspiração para o Animal Collective.

O que dá para Centipede Hz sua gravidade relatável é que, desta vez, a sua música sai mais unida, mais forte, com mais vontade e muita garra – raramente uma dose de raiva durante o álbum – e por mais que seu som muitas vezes elevado e dissipado por todos os lados, tudo sai mais energizado do que antes, o que meteoricamente nunca havia acontecido com a banda americana. "Mercury Man" sai mais orgânico que os outros, porém um pouco caótica, vai para o ritmo final do disco, dando um grande fim para as mesclas sonoras de Centipede Hz. A maioria pode não ter se dado conta, mas esse é uma espécie de trabalho que não será esquecido esse ano, e quem sabe até 2019 ele possa ser chamado de algo "grande".

Por Leonardo Pereira

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