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'Alita: Anjo em Combate': Adaptação das HQs japonesas deixa a desejar






Filme dirigido por Robert Rodriguez está longe de ser o filme padrão do universo japonês

Alita: Anjo de Combate é uma adaptação da história de quadrinhos japonesa lançado nos anos 90 que conquistou fãs em todos os lugares do mundo, exaltando ainda mais o país dos mangás. Embora seja uma celebração, esta produção em 3D é uma volta aos filmes tecnológicos de James Cameron na produção desde o sucesso surpresa de Avatar dez anos atrás. Contudo, vale ressaltar que Alita está longe de ser o filme padrão deste universo japonês simplesmente porque o formato de produção foi realizado para ter uma sequência, fugindo do sucesso que um filme perfeitamente realizado e sem continuação tem.

No enredo de uma cidade pós-apocalíptica do estilo Mad Max chamada A Queda flutua no céu em que ciborgues e humanos convivem em socidedade em 2563. É quando Dr. Dyson Ido (Christoph Waltz) descobriu um ciborgue feminino sem corpo e com cérebro humano totalmente intacto que a sua vida muda dentro do filme. Ele monta um corpo cibernético para sustentar o ciborgue feminino. Neste instante, ela acorda e pouco a pouco vai redescobrindo gestos pequenos, como o prazer de comer uma laranja e chocolate. Então Alita (a incrivelmente idêntica Rosa Salazar revive a personagem principal) conhece Hugo (Keean Johnson), por quem vai se apaixonar durante o tempo em que ambos se conhecem melhor até ser aconselhada por Dyson — na noite ataca de caçador de recompensas para sustentar seu trabalho — a não confiar em ninguém, porque onde eles vivem "os fortes matam os mais fracos".

O enredo pode ser interessante na medida em que há ali um ponto positivo que marca a sua pontualidade: a humanidade de Alita ao conseguir relembrar sua vocação e a capacidade de reconhecer quem a ajudou e amar quem a amou. Mas o filme não funciona porque ele demora para chegar no ponto certo. Aqui as coisas demoram para acontecer, não tendo a necessidade de fazer um filme de quase duas horas. E o roteiro escrito por Cameron, Laeta Kalogridis e Rodriguez não causam uma fusão e não se adequam ao clima do filme, causando superficialidade que chega a dar impaciência para quem está vendo e quer ver onde o filme chega. Ainda que o papel de Salazar seja considerado tocante, sua sintonia foi o bastante para transmitir emoção ao público, mas o que atrapalha sua atuação são as montagens confusas, quebrando a química e o ritmo — um dos pontos principais para um filme acontecer.

E dentro deste universo de ciborgues lutando um contra o outro em busca de recompensa, o filme mostra pontos incríveis ao abordar a vilania de Vector (um Mahershala Ali discreto, mas sua imagem como indicado ao Oscar está longe de ser manchada) e de Chiren (Jennifer Connelly), ex-esposa de Ido, que acreditava na falsa utopia de Zalém e no decorrer do filme foi abrindo seus olhos diante da falsa realidade. O filme mostra pequenos flashbacks de como o passado fora contado, como a parte em que a filha de Ido e Chiren foi assassinada por um ciborgue viciado, fator que o próprio filme mostra que foi difícil para os dois superarem, sobretudo para Chiren, acarretando em seu divórcio com Iro.

No decorrer do filme, Alita é traída pela ingenuidade de Hugo (cena em que Vector engana Hugo para poder entregar Alita em busca de um lugar em Zalém) e acaba sendo morto pelo caçador de recompensas Zapan, ciborgue que acaba sendo uma pedra no sapato na vida de Alita. Como se trata de um filme de ficção científica, a superficialidade aumenta quando, ao tentar dar mais realidade ao filme, o diretor inventa em dar nova vida a Hugo com Alita encontrando um jeito de degolar sua cabeça para transformá-lo em ciborgue para continuar vivendo. Como o próprio filme aponta, o fim da linha para Hugo é inevitável morrendo por picoteado, caindo e se dissipando no meio das núvens brancas, e mesmo Alita matando Vector e o ciborgue Grewishka — fundido entre duas versões diferentes do universo mangá — o final parece ser incompreendido, dando a alusão de que terá uma continuação. Alita: Anjo em Combate não é a versão definitiva da ciborgue heroína dos mangás japoneses e está longe para realizar este feito.

• Leonardo Pereira 

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