Pular para o conteúdo principal

Lana Del Rey, 'Ultraviolence'



Três anos depois, Lana Del Rey planta a existência de sua carreira com provocação: em seu primeiro álbum, a cantora simplesmente agiu sem experiência no estúdio, o que pode ser compreendido. Mas aqui soa completamente diferente, porque Ultraviolence é o seu segundo disco e o melhor até aqui, na qual, a cantora aborda de uma forma mais competente a sua vida com um tom provocativo – como sempre. Mas tudo que Del Rey já faz começa a se tornar normal para ela. Atualmente, brigar nas paradas com nomes atuais e pouco mais pesados e experientes como Lady Gaga e verdadeiras crianças, como Miley Cyrus, Del Rey já se mostra mais artista que Cyrus. Grande progresso.

Voltando um pouco, em Born to Die, de 2012, foi um estouro para o público, apesar de conter alguns problemas encontrados no decorrer de seu material. Também, a opinião de dois anos atrás também foi mudada avaliando seu segundo álbum, que por sinal, foi um recomeço e um erro admitido de que Del Rey é uma artista competente. Del Rey me mostra logo no começo com "Cruel World", seguido da faixa-título que contagiou os primeiros dez minutos. Sim, Del Rey me provou seu talento em apenas duas faixas.

Moldado como a sua estréia, o tom experimental e a sua sonoridade chega a arranhar perto dos Black Keys: as guitarras grunhidas misturado com riffs e grooves deliciosos, porém meio gótico, o que deixa o ritmo do álbum extremamente delicioso de se ouvir. Guitarras psicodélicas são fatores que ainda iremos ouvir até o fim de Ultraviolence, enquanto que os ecos adicionados pelos inúmeros produtores do álbum, como Dan Auerbach (Black Keys), Paul Epworth (Adele), Lee Foster e outros, ficaram na medida do "beirando a perfeição", porque o ambiente de um grande álbum de música pop é o essencial para que o disco venda e se torne marcante.

Em "Brooklyn Baby", Del Rey canta com alma em meio aos ecos já citados e as guitarras despertantes. Contudo, o ambiente de canção para canção muda drasticamente, mas isso não quer dizer um sinal ruim. Não há nada para temer em Ultraviolence: suas canções são concentradas e ouvidas de bom grado e com felicidade. "Sad Girl" me lembra Amy Winehouse beirando ao fim de sua vida de grande talento até a solidão e o desejo suicídio acabarem com a carreira prematura dela, aos 27 anos. Del Rey é uma fonte de grandes influências em seu som, o que é diferente da maioria das cantoras pop da atualidade. Suas batidas não saem tão eletrônicas, aderindo mais ao estilo rock de se gravar música atual. Ainda por cima, Del Rey deixou as suas músicas seguindo o modelo do sucesso de Chris Isaak, "Wicked Game", de 1989. Isso é uma visão verdadeira de que ela olha para atrás para procurar influência e criatividade para misturar com seu talento de fazer música. Todos os conteúdos ouvidos aqui são meramente obras competentes.

São canções mostrando o lado dramático da cantora, algo que eu e Del Rey temos em comum. Em "Pretty When You Cry", a profundidade musical encontrada aqui é marcante. Não há o que contestar quanto a isso. "Money Power Glory" é uma poderosa balada de arrepiar, desta vez colocando o coração de Del Rey no seio da música. Contudo, as músicas do álbum tem a mesma cara de Del Rey, porém com características diferentes e pessoais. Sim, cada um é como uma história, uma mais linda que a outra, nas quais podemos encontrar uma Del Rey triste, alegre, séria, brincalhona.

Muitos dos amores de Del Rey são antipáticos. Voltando para "Money Power Glory", quando ela recebe uma grande chance com um hino como destaque, e não se deixa perder. Sim, esse foi o sonho americano de Del Rey, de fato que não ficou mais honesto que isso.




Por Leonardo Pereira

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

The Velvet Underground: Discografia Comentada

Qual foi a banda americana que mais influenciou os futuros grupos de rock britânicos? E quem foi a banda americana mais odiada em sua época e reconhecida como clássica nas décadas seguintes? É óbvio que é o Velvet Underground. Formado em 1964 por Lou Reed, John Cale, Sterling Morrison e Angus MacLise, o grupo ficou conhecido pelo seu som pessoal e visionário, nas quais, com as composições sujas de Reed falando de drogas e diversos problemas sociais, o Velvet influenciaria outros artistas de características parecidas. Em apenas cinco álbuns de estúdio, o Velvet deixou seu legado, que acabou se tornando grandioso por antecipar fatores que o punk-rock, a new-wave e as bandas britânicas dos anos 80 – como o Echo & the Bunnymen, The Jesus & Mary Chain, The Smiths e outros – passariam a adotar, tornando o Velvet Underground em um grande mito do rock & roll. O Velvet foi o grupo mais anticomercial de sua época, mas sua música se tornou em uma grande len...

Queen: Discografia Comentada

Com o fim dos anos 1960 e muitas dúvidas sobre o que estaria sendo guardado para o rock & roll, os Beatles haviam lançado seu último disco, Let It Be (1970), e depois romperam para seguirem carreiras solo. O que esperar pela nova década que chegara com tudo? A Grã-Bretanha viveu um período de reformulação de sua música, e essa mudança foi radical. Gêneros como o glam-rock e o rock progressivo cresciam com intensidade na terra da Rainha, enquanto que os Stones já haviam se considerado a maior banda de rock do mundo inteiro, mas era da geração passada de grandes artistas britânicos como o Who, Beatles e etc.  Inovadores, extravagantes, gêniais, criativos e grandiosos, foi assim que o Queen conquistou o mundo, na base do otimismo. Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon lutaram contra a imprensa da música para conseguirem o que tanto sonhavam: serem famosos. No início da década de 1970, a banda ainda com uma sonoridade altamente influenciada pelo Led Zepp...

Soda Stereo: Discografia Comentada

  O rock argentino – chamado de "El Rock Nacional" por lá – encontrou o seu ápice na década de 1980: problemas políticos estavam envolvidos e os artistas da época estavam insatisfeitos com a condição de seu país na economia e na Guerra das Malvinas. Para piorar, o povo estava sendo enganado pelo general Leopoldo Fortunato Galtieri, que afirmava que a Argentina havia ganho a batalha. Depois de descoberto a mentira, o povo e os músicos da época se voltaram contra Galtieri, que no final das contas, teve que renunciar e sair da Casa Rosada (sede do governo argentino). Foi a partir desse exato momento que o rock dentro da República Argentina começou a ser ouvido e venerado de tal forma que hoje é comparado a paises como Inglaterra e Estados Unidos, onde o rock sempre foi bem afirmado e considerado como arte cultural.  Nesse exato momento, quando o rock começou a reformular seu estilo e ganhar um gênero que se aproximasse da conhecida "música de protesto", e...