Quando Beck lançou Sea Change em 2002, o mundo reverenciou o disco, se tornando um dos mais destacados naquele período. Agora, em Morning Phase, Beck volta basicamente para o Blood on the Tracks de sua carreira. É interessante a adversidade musical que o músico de estilo retrô e reciclável colocou com sucesso, mesma característica que Sea Change tem e que Beck resgatou para aqui em Morning Phase. Eu tenho a leve impressão de que Beck criou mais um trabalho importante em sua carreira, e que através dos anos, será considerado como um clássico do folk.
Na introdução do álbum, em "Cycle", quem começa é David Campbell, pai do cantor americano, colocando tudo o que será ouvido em questão de influência. Em "Morning", tudo soa sinceramente lindo, com uma pitada de bateria acústica retirada sem intenção de "Tangled Up in Blue", de Bob Dylan. Com o ritmo da música, Beck canta devagar, mas com uma qualidade que não se pode comparar com nenhuma outra voz do gênero. Além de seu violão, todo sentimento da faixa se reencontra em uma espécie de orquestração muda que vai crescendo no momento que a segunda canção vai sendo executada. De repente, ela para e recomeça. Ela é surpreendente, lindo, único e com uma autonomia dada com competência por Beck.
Como todas as treze faixas do álbum foram trabalhadas com muito suor, Morning Phase é sensualmente folk porque é simples, sincero e de tocar todos os corações de pessoas que se emocionam rapidamente pela música. Com todas as demonstrações severas, "Heart Is a Drum" é áspera, com vocais que alcançam uma tonalidade curiosa e ao mesmo tempo com pouco humor – outro fator que sempre foi importante nos discos de Beck. Parece que se move através da vibe, dos sentimentos mais loucos, revivendo principalmente os anos de psicodelia dos anos 1960. Sim, Beck me causa essas coisas. Ele me faz entrar para uma máquina do tempo imaginária e ver todas estas coisas através da minha imaginação. Mas o caminho é percorrido pelos ouvidos vidrados pela música.
As canções ficaram com uma pitada do som caótico do Velvet Underground em sua estréia barulhenta em 1967, cada uma com seus significados – "Say Goodbye" me lembra bastante a porta de entrada de "Sunday Morning" naquela lendária obra. "Say Goodbye" contém uma particularidade pessoal e reconfortante para a alma, assim como "Blue Moon" de coros vocais doces e suaves. Tudo foi com a mais tranquila paciência para Beck: este cara de grande influência no cenário folk de nosso tempo veio arrematando o público jovem, trazendo para si em particular uma vasta popularidade – que por sinal, é surpreendente. Pelo que ouvi em seu som, Morning Phase sem dúvida será um trabalho que vingará alguns materiais que o musico americano não conseguiu emplacar nas paradas americanas de discos. Parece que sua inspiração acordou de imediato para se comunicar com Beck de que ele voltaria ao topo – pela terceira vez em menos de vinte anos.
Em seu todo, Morning Phase contém uma linguagem melancólica, mas isso não é motivo para cara feia. Ele deixou de lado as letras engraçadas no início da década de 2000 para focar em algo muito mais sério, consistente e sólido não só em questão literária, mas em fins sonoros, pelo conjunto da obra. Por exemplo, em "Country Down", Beck soa bastante semelhante ao Neil Young na época de Harvest, de 1972, o álbum folk-blues que deu uma chance para o estrelato que Young estava esperando nos anos em que os Estados Unidos se encontrava em guerra no Vietnã. Em "Blackbird Chain", Beck se inspira de forma literal em Nick Drake, o músico que tinha a grande capacidade de construir músicas lindas, enquanto que "Wave" possa ser uma representação do estilo e influência do estilo de coros vocais e orquestrais que Björk sempre usou em seu catálogo.
Morning Phase é o seu momento de desabafo emocional, assim como Sea Change. Tal comparação de seu som é inegável, por sua estrutura intensamente densa, com Beck escrevendo como se fosse Bob Dylan e procurando ter a mentalidade épica dos Rolling Stones mais country em "Far Away Eyes". Rolling Stones? Seria loucura? Eu acho que não. Com uma sonoridade como esta sendo arresém lançada no início de 2014, é perigoso se destacar mais que os outros discos prováveis que ainda estão para ser lançadas no decorrer desse ano pré-Copa do Mundo. Morning Phase é um dos discos que nos ajudarão a esquecer dos nossos problemas pessoais e as adversidades que estão dividindo o mundo.
Por Leonardo Pereira
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