Depois da grandiosa turnê mundial que acabou gloriosamente, Springsteen volta ao trabalho com High Hopes, seu 18º álbum de estúdio que traz músicas que nunca sequer participaram dentro de um disco de Springsteen e outras que já foram lançadas que foram refeitas de acordo com o gosto de The Boss. Primeiramente, o momento é de Springsteen, que se auto-compara o momento na qual viveu nos anos 1980, na qual garantiu uma saudação ovacional por seu trabalho, principalmente com trabalhos inovadores como Nebraska (1982) e Born in the U.S.A. (1984).
Ouvindo o novo álbum, percebe-se que Springsteen descartou as características R&B com coros vocais gospel de seu último disco, Wrecking Ball, o disco que se tornou a grande cartada de Springsteen para a Grande Recessão, e trouxe um novo jeito de tocar em High Hopes. Há tantas faixas qualificadas que nem sei por onde começar. A faixa-título, que começa o disco de forma bastante extravagante, com uma sonoridade que se difunde e se aproxima de um notável som barroco. O conteúdo literário é perfeito para o artista de Nova Jersey, mas o estilo é grandemente diferente. Ao mesmo tempo voltamos ao tempo de vacas magras do segundo álbum de Bruce, The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle, de 1974, o disco que melhor chegou perto da influência de Bob Dylan e Van Morrison.
Todo álbum possui um sentimento trascendental e profundo: High Hopes tem aquela doçura profunda que deixa seus ouvintes – especialmente seus admiradores – de boca aberta. Em contraponto, o álbum é cheio de lembranças de materiais lançados por Springsteen ao longo de sua carreira. Um desses exemplos é "Harry's Place", uma espécie de som obscuro com as batidas potentes e guitarras distorcidas, relembrando suas memórias na época de Lucky Town (1992). Da mesma forma que "Just Like Fire Would", outra grande jóia de High Hopes, com uma bateria correta e o saxofone de Jake Clemons (sobrinho de Clarence Clemons, falecido em 2011), a quarta faixa do álbum é um dos melhores momentos de Springsteen no novo trabalho de estúdio.
Falando das canções que nunca sequer integraram um material de Bruce, "American Skin (41 Shots)" é uma grande balada do disco. Isso é uma boa abordagem das inúmeras baladas tocantes que Springsteen compôs, e que mostra que esta poderosa faixa é uma fonte rica da história de The Boss com o rock & roll clássico. Em Wrecking Ball, a tocante "Jack of All Trades" melhor retratou a fé dos americanos. Talvez seja a terceira canção de High Hopes que mais chegou perto desta característica de balada tocante emocional.
Dentro dessa sonoridade de barco frágil, Springsteen tem sua arma maquiavélica para o poder, e a qualquer álbum lançado, ele tem essa grande liderança já mostrada há muitos anos de colocar faixas como "Down in the Hole", que é um tipo reflexivo de música que faz todos que curtem boa música viajar para um outro lugar, um horizonte, permitindo-se entrar em um espaço paralelo. Você poderia sonhar com qualquer coisa ouvindo "Down in the Hole". Comparando, é uma espécie de "I'm on Fire" desse álbum. Ao mesmo tempo, "Heaven's Wall" é uma faixa de muito bom astral em que Springsteen traz a amostra perfeita de uma boa abordagem literária – algo mais pessoal, pelo que notei – em questão de religião. Bastante interessante ouvir e prestar atenção em uma faixa como esta.
Springsteen novamente conta com seu parceiro leal, Tom Morello, guitarrista do Rage Against the Machine, para participar do disco e deixar o álbum um pouco mais jovial, apesar de sempre estar ocultado pela poderosa E Street Band, de Springsteen. A banda tem mais pegada, algo que há muito tempo só tinha em suas apresentações épicas ao vivo. Em "The Ghost of Tom Joad", mais uma vez, guitarras permeiam todo o seio central da música, enquanto que "Frankie Fell in Love" é uma história de amor contada por Springsteen, algo honestamente cativante, contendo uma doçura e simplicidade misturada com ternura já vista em discos passados, como "The River" e "Two Hearts", ambas do clássico álbum duplo clássico de 1980, The River.
É pura questão de influência e saber lidar com isso. É coisa do ramo. Saber como transmitir uma mensagem, e Bruce Springsteen sabe disso. Ele tirou isso de Bob Dylan, só mudou as regras de como colocar em um álbum de rock & roll. High Hopes contém histórias imperdíveis, passando pelas mais divertidas ("High Hopes" e "Heaven's Wall") até pelas mais introspectivas e profundas críticas à política no nosso presente cotidiano ("American Skin" e "Down in the Hole). Obviamente, High Hopes é um novo clássico de Springsteen, mas não é o melhor de sua carreira, como Born to Run (1975) e Born in the U.S.A. (1984) foram em questão de mudar a América e o mundo. Mas toda banda de rock que quer entrar para a história adoraria ter um álbum como este. Mais uma vez, inovador e um novo clássico para o seu catálogo.
Por Leonardo Pereira
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