Nessa última semana, após a morte já anunciada de Lou Reed, conhecido por ser o líder do Velvet Underground, não podia deixar de fazer outra homenagem. Nos anos 1960, quando o mundo da música ainda vivia aquele momento de incertezas na psicodelia, mudanças radicais no cotidiano, a era hippie entrava profundamente no inconsciente dos jovens britânicos, que começavam a desabafar ouvindo The Who, enquanto que os americanos se entregavam ao estilo popularmente único do Grateful Dead e da agressividade guitarrística de Jimi Hendrix.
Porém, em Nova York, um grupo de pessoas bastante esquisitas andavam pelas ruas mais suburbanas e decadentes da cidade americana. Eles usavam óculos escuros em plena noite — o que já causou bastante estranheza para quem já havia avistado-os. Com cabelos pretos mais ou menos cacheados e usando óculos escuros basicamente quadrados, Lou Reed nem sequer tinha idéia do ícone em que se tornaria. A sua banda tinha um nome extraído de uma publicação pornográfica, mas não se enganem, o nome tinha a sintonia perfeita para eles: Um bando de degenerados com boa base educacional que se consideravam diferentes, e acima de tudo, arrogantes. Arrogantes por extrairem um som barulhento e inaudível para os meios populares da época.
Sejamos sinceros, se não houvesse a arrogância, o Velvet não seria nada e Reed nem existiria para contarmos a história. O que a história nos relata é que o maior álbum de todos os tempos foi Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, lançada em 1967. Mas, para o próprio Reed, foi o disco de estréia de sua banda, auto-intitulado The Velvet Underground and Nico, que era o maior de todos os discos. "É simplesmente o mais importante disco da história do rock", conta ele completamente sem pensar em uma entrevista nos anos 1980, acreditando em seu grande ego. Muitos o chamariam de prepotente. Muitos fariam para si mesmo esta pergunta: "Será que é verdade?" Eu diria: "Será que é mentira?"
Também conhecido como o álbum da "banana", o disco foi marcado por ser um fracasso comercial. As pessoas odiavam esse disco de todas as formas possíveis. O álbum nem sequer foi ouvido e resenhado por nenhuma fonte importante na época. Muitos aderiram, sem saber do impacto que daria futuramente, como o álbum mais esquecido dos anos 1960. Em geral, a conotação literária é sublimemente assustador para os meios da época. Não tinha como não se assustar, porque apenas poucos ouviam esse lendário disco, sendo a maioria jovens naquela época, enquanto que as pessoas mais adultas davam mais atenção aos Stones, Kinks, etc. De alguma forma, as suas letras iam no mesmo caminho dos sucessos dos Rolling Stones, porém a sonoridade do Velvet se estabeleceu como algo mais obscuro. (A partir daqui, surgiu o gótico, o new-wave. Isso foi percebido no final dos anos 1970 e início dos anos 1980).
O disco começa como uma canção de ninar, e quando Lou Reed canta: "Sunday morning, praise the dawning/It's just a restless feeling by my side/Early dawning, Sunday morning/It's just the wasted years so close behind" ("Manhã de domingo, louve o amanhecer/É apenas um sentimento inquieto ao meu lado/Cedo amanhecer, Manhã de domingo/São apenas os anos desperdiçados tão perto"), a música continua se tornando uma calmaria para quem ouve esse álbum, mas quando uma faixa como "Sunday Morning" abre um disco tão atípico como este, é porque algo está para vir, seja de forma malvada, horripilante e pesada, mas não em um rítmo tão acelerado.
Digamos que a paulada literária vem em "I'm Waiting for the Man": Uma ode ao mercantilismo das drogas. Reed mesmo afirmou: "A história é verdade". "I'm waiting for my man/Twenty-six dollars in my hand/Up to Lexington, 125/Feel sick and dirty, more dead than alive/I'm waiting for my man" ("Estou esperando pelo cara/26 dólares na minha mão/Acima da Lexington, 125/Sentindo-me enjoado e sujo, mais morto que vivo/Estou esperando pelo cara"), Reed em meio a um toque de R&B mesclado com uma batida de piano ao estilo blues e com um ruído historicamente característico.
É perceptível sua estética, tanto na sua música quanto na capa do álbum. Criado pelo pintor e empresário da banda na época, Andy Warhol, a capa basicamente desafia os ouvintes do rock & roll a ser inovador. É mais uma daquelas filosofias do que as pessoas vão pensar ao olhar para esta banana. Depende de cada um, principalmente tratando de uma das obras mais polêmicas — para a sua época — reconhecidas anos mais tarde. Lou Reed tinha razão. The Velvet Underground & Nico é o disco mais importante do rock & roll por ter influenciado mais que os próprios Beatles uma geração e uma década inteira de sintetizadores, batidas eletrônicas e música gótica. Simplesmente inesquecível e fantástico.
Por Leonardo Pereira
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