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R.I.P. Lou Reed



Lou Reed, compositor e guitarrista massivamente influente, morreu ontem, dia 27, aos 71 anos. A causa de sua morte ainda não foi divulgada, mas Reed havia passado por um transplante de fígado em maio desse ano. Ficou marcado por ter ajudado a moldar por quase cinquenta anos o rock & roll. É uma morte que foi e continuará sendo sentida por todos os fãs incondicionais do rock & roll.

Nos anos 1960, com o Velvet Underground, Reed fundiu todos os elementos da música européia, trazendo e misturando um novo estilo lírico para a poesia do rock & roll. Como um artista solo, foi altamente criativo, a partir dos anos 1970 até 2010. Em 2011, em parceria com o Metallica, Reed lançou Lulu, contendo bastante experimentalismo entre o seu rock totalmente característico e o metal da banda americana. Em cada momento de sua carreira solo, Reed foi camaleônico e imprevisível, desafiando os seus fãs em cada busca por nova inovação. Sempre de mente aberta, aceitou com unhas e dentes o punk, o glam e o rock alternativo. 

Lewis Allan "Lou" Reed nasceu no Brooklyn em 1942. Foi um fã perdidamente pelo gênero doo-wop no início do rock & roll (ele introduziu Dion de forma comovente no Hall da Fama do Rock em 1989), Reed teve sua inspiração formativa durante seus anos na Universidade de Syracuse com Delmore Schwartz. Após a universidade, Reed trabalhou como um novo compositor para um novo selo na época, a Pickwick Records (onde teve uma música considerada popular em 1964, chamada "The Ostrich"). Mas seu período de ouro ainda estaria por vir: Reed conheceu o músico galês John Cale, um violinista com formação clássica que também queria formar uma banda de rock. Reed e Cale formaram um grupo chamado The Primitives, que em seguida, mudou para Warlocks. Depois disso, conheceu o guitarrista Sterling Morrison e o baterista Maureen Tucker. O resultado foi a formação do Velvet Underground.

Com o Velvet Underground, Reed se consagrou, mas não foi dessa forma que as pessoas olharam naquela época, nos anos 1960. O álbum de estréia da banda, The Velvet Underground & Nico — mais conhecido também como o álbum da banana — ainda permanece como um marco lado a lado com Sgt. Pepper, dos Beatles, e Blonde on Blonde, de Bob Dylan. Mesmo assim, as descrições de Reed sobre a realidade suburbana de Nova York, repleta de alusões às drogas ("I'm Waiting for the Man" e "Heroin"), prostituição ("There She Goes Again"), ocultismo ("The Black Angel's Death Song") e sadomasoquismo ("Venus in Furs"). Em relação a essa obra-prima inovadora, as vendas do disco foram péssimas, porém, existe uma lenda verdadeira na qual quem o comprou montou uma banda de rock. Isso inclui nomes como David Bowie, Iggy Pop, Joy Division, Echo & the Bunnymen e etc. 

Seus próximos discos seriam marcados pela mudança torrencial de sua sonoridade em seu álbum de estréia. Seus próximos três álbuns — o som destrutivo de White Light/White Heat (1968), o folk frágil, mas fortificado de The Velvet Underground (1969) e Loaded (1970) — não seriam tão reconhecidos na época em que foram lançados, mas eles foram abraçados pelas futuras gerações, consolidando o status do Velvet Underground como uma das bandas mais influentes do rock americano de todos os tempos. 

Depois de romper com o Velvet em 1970, Reed foi para a Inglaterra e, de forma paradoxal, gravou um álbum solo com o apoio dos membros da banda de rock progressivo Yes. Mas, na verdade, foi seu próximo álbum, Transformer (1972), produzido pelo discípulo de Reed, David Bowie, que o empurrou para além do status de um verdadeiro estrelato no rock & roll. Reed passou os anos 1970 inteiros desafiando a todos com suas novas experimentações. Berlin, de 1973, foi brutal e bombástica enquanto que Sally (1974) não foi nada dançante, mas tinha alma e uma guitarra bastante chamativa. Em 1975, ele lançou Metal Machine Music, uma experiência borbulhante para a sua gravadora RCA comercializado como um avant-garde na música clássica, enquanto que Reed brincou pesadamente no álbum ao vivo Take No Prisoners, de 1978, que foi uma espécie de disco de comédia em que Reed passou pela tangente e os críticos de rock o atacaram.

No decorrer da década de 1980, as experiências de Reed começaram a ficar mais suaves, bem diferente do Lou Reed enérgico e inovador que estava cada vez mais se distanciando da mesmice musical que alguns artistas estavam focados na época. Mesmo assim, Reed continuou seguindo sua consciência. Os anos 1980 e 1990 foram mais tranquilos para ele. Ele era um cara que não precisava fazer o que muitos outros artistas tinham que fazer para estarem sob os holofotes. Talvez para quem não é famoso, mas no caso dele, já sabia que era respeitado, e sempre foi humilde.

Mais um ícone se partindo, pois todo mundo um dia vai morrer. Mas para todos os roqueiros, a música de Lou Reed continuará sendo ouvida, mostrando para aqueles que reconhecem que ele é o cara, porque vai nos mostrar que ele não morreu em vão. Muito obrigado, Lou Reed, por ter vindo ao mundo e ter deixado a sua cara revolucionando a música. 

Por Leonardo Pereira

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