Nos alicerces do rock, um grande disco sempre marca um grande artista. Variando de forma diferente em cada gênero existente nesse mundo. Dentro do rock progressivo, não há muitos acontecimentos – bandas – que entraram para a história após atingir o pico com uma de suas maiores transformações. Eu poderia citar aqui o Emerson Lake & Palmer, ou o Genesis, mas de fato, não se torna realmente "épico". O tipo de rock progressivo que estas bandas aderem não são o mesmo tipo de "progressivo" que o Pink Floyd defende, que são os elementos mais inesperados, como uma conversa, barulhos de relógio tocando, animais, pássaros e etc. É deste tipo de som na qual me refiro. É a revolução, a ousadia, tudo o que é considerado diferentemente inovador.
Festejo atrasadamente o aniversário de 40 anos da obra-prima do Pink Floyd, The Dark Side of the Moon, um dos maiores discos da história do rock e o precursor do rock progressivo em geral, falando e analisando historicamente o conteúdo de suas canções altamente clássicas que fizeram permanecer nas paradas de sucesso americanas há mais de 25 anos seguidos, ininterruptos.
Além de ser uma obra-prima que colocou o Pink Floyd no maior concorrente em seu campo, The Dark Side of the Moon salvou o que poderia ter sido o fim do grupo. Quando o Floyd era uma bandinha de colegiais no fim dos anos 1960 – Roger Waters no baixo, Nick Manson na bateria, Richard Wright nos teclados e Syd Barrett nos vocais e guitarras – a sua sonoridade soava totalmente hippie, fresca, psicologicamente louca e contendo uma abordagem psicodélica, principalmente inspirado pelos dois discos mais loucos e esquisitos da carreira dos Beatles – Revolver (1966) e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967) – e Pet Sounds dos Beach Boys, lançado em 1966.
Além da salvação de suas carreiras, antes disso, Waters, Gilmour – que entrara no lugar de Barrett após o líder belo e excêntrico da banda enlouquecer completamente devido ao seu uso abusivo de LSD, ou para quem prefere, ácido lisérgico –, Wright e Manson estavam entregues às dúvidas, aos caminhos confusos. Depois de Barrett ter abandonado a banda, que caminho tomar? Quem iria compor as músicas? Como seria o processo de gravação? Não é atoa que o conjunto londrino teve que passar por experimentações musicais que colocaram todo seu trabalho exforçado no lixo com Ummagumma (1969), Atom Heart Mother (1970) e Meddle (1971) no lixo. Porém, a banda não havia uma peça central, um líder. E ninguém deixava Waters ser o líder.
Porém, The Dark Side of the Moon nasceu verdadeiramente dois anos antes de ser concebido. Em 1971, ainda nas sessões de Meddle, a banda compôs uma das canções mais longas de toda a carreira do Pink Floyd, chamado "Echoes", que continha as mesmas características sonoras, misturadas com sons de pessoas falando, portas batendo, pássaros cantando e etc. A partir daí foi que o Pink Floyd achou o seu estilo próprio que os definiria e os faria de uma grande peça de reconhecimento no mundo todo através das décadas.
Tudo começou quando a banda se reuniu na casa de Manson, e Waters propôs a todos que simplesmente começassem a escrever sobre os seus problemas pessoais que vieram quando Barrett teve que abandonar o grupo por problemas mentais, e que certamente, além deste assunto, os quatro iriam escrever canções que reunissem temas que "cansariam as pessoas", como o dinheiro, etc. A partir daí, vieram muitas novidades.
Em maio de 1972, a banda entrou nos estúdios Abbey Road, em Londres, e começaram a trilhar musicalmente o seu caminho rumo à salvação de suas carreiras, que culminaria no fim das sessões em janeiro de 1973. Trabalhando ao lado do produtor Alan Parsons – que já era conhecido do grupo desde Atom Heart Mother (1970) e por ter trabalhado em vários discos dos Beatles – The Dark Side of the Moon tomou forma aos poucos, arrecadando mais dinheiro e investimento para a sua realização milionária e inovadora.
A primeira grande cartada nas gravações foi "Us and Them": Uma balada inovadora movida por saxofones de auto nível que condensam o ambiente poderoso e lento, seguido pela voz de Gilmour. Depois, a bola da vez foi "Money" – que mais tarde, se tornaria um enorme sucesso, sendo o porta-voz do álbum – na qual Waters teve que tirar do próprio bolso para obter os efeitos sonoros, sobretudo moedas, usando a técnica loop, que até então era raro e desconhecida para os discos desta época. Lembrando que, para produzir esta obra-prima, Parsons teve muita paciência, pois as sessões sempre eram interrompidas por entretenimentos banais dos integrantes da banda. Não muito raro para uma banda como o Pink Floyd.
Em seguida, vieram "The Great Gig in the Sky" – com a voz poderosa de Clare Torry como papel principal – e "Time": Uma meteórica passada nas guitarras de Gilmour, começada por um barulho de relógio despertando de forma incomodativa. Mas a entrada e a voz de Gilmour tiram este lado chato. Depois disto, tiraram férias merecidas para cada um ficar com suas famílias – fator de entretenimento, já que, depois, teriam que entrar em turnê novamente.
O conteúdo central de The Dark Side of the Moon sem dúvida são os seus temas sociais, servindo como uma possível crítica para todo nosso sistema ("Money"), problemas mentais e o fator local quando a saúde pública era considerada uma das piores na Grã-Bretanha ("Brain Damage"), além da discussão sobre morte ("Time"), contada ironicamente através de uma grande e épica apresentação de Gilmour nos vocais e nas guitarras, enquanto que o autor da música, Waters, deixou seu baixo em grande escala, se transformando também em um grande destaque.
Depois que The Dark Side of the Moon foi lançado, imediatamente chegou ao topo das paradas americanas nos Estados Unidos – alguma dúvida quanto a isto? – e já apareceu mais de 803 vezes na parada desde então, durante 25 anos consecutivos, tendo vendido em toda a América mais de 15 milhões de cópias, sendo grande destaque também em sua terra natal e na França, se tornando como um dos maiores discos de toda a história do rock, e estaria para ser como uma das maiores influências para os seus futuros discos – que até então foram bem sucedidos. O fato é que, comemorar atrasadamente os 40 anos de The Dark Side of the Moon me deixa envergonhado, porém, consegui me redimir de tal forma para que nunca esquecesse desta data e ano importantes. Duvido que esta nova década e geração consigam criar algo criativo que consiga perdurar entre décadas o que The Dark Side of the Moon conseguiu realizar, e que de forma unanime, seja considerado a "obra-prima" de toda a carreira de uma banda criativa e revolucionária como o Pink Floyd.
Por Leonardo Pereira
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