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Bruce Springsteen, 'Working on a Dream'



No novo álbum de Bruce Springsteen, as músicas são mais bem humoradas, porém de um jeito diferente. Working on a Dream foi concebido em plena época de eleições norte-americanas, o que o título já se refere em uma grande atitude de mudança. Se por outro lado, Magic – seu antecessor de 2007 – trazia toda sua insatisfação em torno dos problemas americanos e econômicos do país há dois anos atrás, Working on a Dream significa tudo mais positivo, mas nunca se esquecendo do "american dream". Um exemplo perfeito do que estou falando é na poderosa faixa de abertura, o épico de faroeste de oito minutos "Outlaw Pete", na qual Springsteen se transporta para dentro da música e se transforma no personagem principal do enredo. "I'm Outlaw Pete, can your hear me?" ("Eu sou Outlaw Pete, você pode me ouvir?"), canta Springsteen, como quem chamar a atenção dos causadores de problemas da terra da oportunidade.

Sim, esse tipo de sonoridade imposta pela sua E Street Band, pela primeira vez soa completamente diferente, começando por um teclado movido pelo suspense, como se dois cowboys estivessem prontos para duelar, porém quem aperta o gatilho primeiro é The Boss. "He said, 'Pete, you think you've changed, but you have not/He cocked his pistol, pulled the trigger and shouted, 'let it stop'" ("Ele disse, 'Você acha que mudou, mas não tem nada/Ele ergueu a pistola, puxou o gatilho e gritou, 'Vamos parar!'"), Springsteen clama por paz nessa parte do conflito que poderia ser um fato verídico sobre a vida dura e complicada que vivem os pobres na América. Mas a dor é maior que eu imaginava – "He drew a knife from his boot and pierced him through the heart" ("Ele tirou uma faca da bota que lhe atravessava o coração") – mas Dan poderia também estar pedindo perdão a Deus enquanto só olha para os lados agonizando – "Dan smiled as He lay in his own blood dying in the sun" ("Dan sorriu enquanto dormia em seu próprio sangue morrendo sob o sol"). "Outlaw Pete" claramente abre o álbum com intuito de mostrar os problemas da América através de seus novos personagens.

Musicalmente falando, a estrutura musical que conduziu Springsteen há sete anos atrás até aqui praticamente é a mesma, sendo que a relação intensamente profética (The Rising, de 2002) ainda teve espaços bastante significativos em Magic, e por último, no novo trabalho de Springsteen. Além disso, Bruce explora profundamente a Invasão Britânica – Springsteen volta aos velhos tempos quando ouvia os Beatles, uma das bandas que definiram seu estilo e deu uma opinião final sobre o que o pobretão de Nova Jersey queria fazer na época. Por sinal, foi uma volta ao tempo perfeita em "Tomorrow Never Knows", de um dos muitos discos revolucionários dos Fab Four, Revolver, de 1966.

Ambos as músicas possuem o violino como arma principal para os solos finais. Em "My Lucky Day", outra grande e linda canção de Springsteen, o mesmo canta com o acompanhamento de segundos vocais – que são identificados por ser do saxofonista Clarence Clemons, que também contribui grandiosamente para esta mesma faixa com seu instrumento de sopro – e com os solos de violinos magnificamente brilhantes de Soozie Tyrrell, uma profissional adicionada na E Street Band. "When I see strong hearts give way/To the burdens (burnings?) of the day" ("Quando eu vejo corações fortes desistirem/Para os fardos diários", canta Springsteen com seu vocal rouco incitando a decepção na qual ele senti quando o amor de duas pessoas que se amam não dão certo porque os problemas e o orgulho conseguem destruir com todas as raízes e as chances para esse sentimento dar certo. Esse mesmo tipo de pensamento está encontrado na faixa-título, "Working on a Dream", na qual Springsteen soa muito mais simpático do que a canção anterior: "Out there the nights are long, the days are lonely/I think of you and I'm working on a dream" ("Aqui fora as noites são longas, os dias solitários/Eu penso em você e estou trabalhando em um sonho") – desta vez, soando como o velho Bruce Springsteen de sempre, principalmente em seus lendários discos dos anos 1970 e 1980.

Bruce Springsteen segue os mesmos moldes significamente importantes de seus dois últimos grandes álbuns, The Rising e Magic, contando de forma diferente os enredos criados através dos problemas que os Estados Unidos possuem e a falta de organização para resolvê-los. E para você, quem ocupará o posto mais importante da política norte-americana? John McCain ou Barack Obama? Springsteen é muito mais enfático aqui em Working on a Dream, o tipo de trabalho em que ele acabou de lançar, na qual demonstra uma certa "pressão" para o próximo presidente que ocupará seu posto na Casa Blanca.

Por Leonardo Pereira

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