Todo tipo de conteúdo geralmente é colocado em um disco de forma reciclada, e Funeral – o primeiro trabalho desta banda canadense chamada Arcade Fire – não foi diferente. Ela alcança patamares que eu ainda não ouvi esse ano. Contém uma sonoridade diferente, que me chamou atenção pelo fato do mega-grupo usar muito teclado para engrandecer o ambiente emocional e musical. Suas letras soam completamente tocantes – Funeral fala sobre o amor, a dor, a perda, e principalmente sobre a morte – enquanto o casal líder da banda, Win Butler e Régine Chassagne colocaram uma característica muito bonita misturando os seus vocais nas faixas. O resultado foi que Funeral é uma grande estreia para esses canadenses.
Mas o que interessa aqui é que o Arcade Fire é diferente de todas as outras bandas novas que eu já ouvi e o que me impressionou foi como esses canadenses de Montreal misturam os instrumentos mais curiosos e que nunca fizeram parte do ambiente sonoro do rock & roll. O uso do acordeão e do violino – que são tocados por Chassagne – estão por todo o disco, mostrando o valor da líder feminina do grupo, enquanto que nas letras, Butler assumiu o posto principal como compositor. Em "Neighborhood #1 (Tunnels)", um começo triunfal: notas de teclado começam a aparecer, crescendo do nada e engrandecendo epicamente o fundo musical. Depois entra os vocais lindos e na medida dos dois membros mais importantes do Arcade Fire, colocando para a primeira faixa um tom mais emotivo para a canção.
Em todo o álbum foi assim: em "Crown of Love", os violinos conduzem a melodia bonita contida e os vocais de Butler, enquanto os tinidos de violino crescem do nada e aumentam cada vez mais – sinal de que há um fator surpresa dentro da música – o que significa que isso é bom, pois temos grandes novidades. Passando dos três minutos, "Crown of Love" se transforma radicalmente em uma batida disco misturada com violino e o teclado de Butler, e logo, logo vai se esvaindo devagarmente. Para mim, isso é sinônimo de arte. E assim é descrito as outras canções do álbum, o que torna Funeral uma grande jóia deste ano.
Em "Wake Up", a banda mostra todo seu rock sem guitarras poderosas, apenas com teclado e violino – mais uma vez –, um falsete mais sério de Bitler e Chassagne e uma linha de baixo de invejar qualquer grupo de rock. Não seria nada curioso, se em Funeral, acharmos uma faixa que se chame "Haiti": na oitava música do álbum, Chassagne – descendente de haitianos – canta com toda vontade e sutileza num ritmo que se parece muito com dance e com pop-rock genérico, mas muito bem executado. A mesma coisa eu me refiro na linha de baixo estilo Adam Clayton, do U2, em "Rebellion (Lies)" – talvez a faixa que melhor traduz o grandioso momento do Arcade Fire em sua estreia na música. "Rebellion" traz um ritmo em que a bateria toca ao estilo dance, mas os outros instrumentos ocultam colocando uma guitarra na medida com o teclado, e bem no fundo, o violino de Chassagne não poderia faltar.
Na última música, "In the Backseat", Chassagne canta com tamanha teatralidade, enquanto que a sonoridade – que no começo, soa completamente chorosa – se transforma transgressivamente em um rock progressivo misturado com os riffs de violinos e acordeões. Esse foi um dos fatores surpresa do Arcade Fire: apesar de algumas canções terem tido guitarras, Funeral é um álbum anti-guitarras, na qual, com violinos, acordeões e teclados, eles conseguiram encher o enorme vazio que a guitarra estava fazendo, fazendo um tipo de rock diferente de que outras bandas fazem em nossa época. Só me lembro de uma banda que fez rock anti-guitarras em um álbum: o Radiohead, em Kid A (2000), que acabou se tornando um grande clássico.
A musicalidade de Funeral é emotivo, profundo, lindo, obscuro, embalado e o mais importante: com uma lista incontável de instrumentos e tendo a banda sete membros, o Arcade Fire conseguiu elaborar um trabalho que é muito notável e que por anos será aclamado. Disso eu tenho certeza. Não ouve nenhuma banda que eu havia notado todas essas características que só bandas lendárias de rock possuem. Funeral para mim, é um dos melhores álbuns do ano. Sem dúvida.
Por Leonardo Pereira
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